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Produção brasileira de espumantes ganha cada vez mais destaque

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Débora Damasceno
Débora Damasceno

#souagro| Altos de Pinto Bandeira, região de altitude da Serra Gaúcha, foi a primeira do Hemisfério Sul a se dedicar exclusivamente à produção de espumantes naturais e acaba de conquistar o selo de denominação de origem (DO) para esse tipo de produto. A DO recém-obtida da bebida gaúcha tem status equivalente ao da Champagne da França, ao do Cava da Espanha, e ao da Franciacorta, da Itália. Esses espumantes têm em comum o uso exclusivo da marca indicadora de seu local de produção, a chamada denominação de origem. A expectativa é que os atuais produtores, as vinícolas Aurora, Don Giovanni, Família Geisse e Valmarino, disponibilizem as primeiras garrafas com o selo da DO já no primeiro semestre de 2023.

A DO de Altos de Pinto Bandeira foi obtida por meio de um amplo trabalho de diferentes instituições lideradas pela Embrapa Uva e Vinho (RS). O trabalho técnico-científico é fundamental para cumprir as exigências para esse tipo de registro feito pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

“Poder apresentar um espumante com o selo da denominação de origem é uma grande conquista, que exigiu competência profissional e dedicação dos vitivinicultores. Eles buscaram na Embrapa a orientação técnica para essa trajetória”, lembra o pesquisador da Embrapa Jorge Tonietto, que atua em estudos de estruturação e gestão de indicações geográficas.

Tonietto conta que, desde o início da cooperação estabelecida com os produtores em 2005, a conquista de uma DO era um objetivo do grupo no longo prazo. “Os produtores sabiam que os espumantes tinham as qualidades necessárias, mas foi necessário internalizar todos os processos de produção de uma forma coletiva no território. Um grande passo foi a estruturação da Indicação de Procedência de vinhos Pinto Bandeira, reconhecida em 2012”, complementa.

Para a obtenção dessa DO, a Embrapa coordenou estudos detalhados de solos, clima, relevo, aptidão das cultivares, sistemas de cultivo, caracterização dos produtos elaborados, paisagem e renome. Participaram especialistas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de duas unidades de pesquisa da estatal: Embrapa Uva e Vinho e Embrapa Clima Temperado.

Com base nas informações técnicas da região e de seus produtos, a equipe de técnicos, em conjunto com os produtores, estabeleceram os requisitos de produção necessários para garantir que o produto tenha as qualidades e as características da indicação geográfica (IG), os quais passam a fazer parte do Caderno de Especificações Técnicas, que inclui, entre outros, toda a normativa de produção e controle específicos da IG.

Desafio para os produtores

“Não foi uma construção fácil. Com o decorrer dos trabalhos, a dedicação dos pesquisadores motivou o grupo a se unir nas definições técnicas importantes e na busca de um produto distinto, seguindo regras claras e metas a serem alcançadas e não apenas tentando adaptar à realidade de cada vinícola,” pontua Marco Salton, da Vinícola Valmarino, que foi o representante técnico da Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho) no projeto com a Embrapa. Ele relata que uma das maiores dificuldades era encontrar tempo dos técnicos para as discussões necessárias para as tomadas de decisão, já que foram necessárias quase 30 reuniões.

Salton relata que a união do grupo e o foco na busca pela denominação de origem foram fundamentais para que o grupo fosse implementando as mudanças necessárias. A condução das videiras no sistema espaldeira, o controle na produção e aquisição de equipamentos, como a prensa pneumática, são alguns exemplos que exigiram grandes investimentos dos associados, necessários para o reconhecimento. O escritório Barcellos Marcas apoiou a Asprovinho no processo de registro da DO junto ao INPI.

“As pesquisas demonstraram que os espumantes da DO Altos de Pinto Bandeira apresentam borbulhas finas e uma delicada e persistente espuma, com notas aromáticas diversas – do frutado à especiarias, um gosto nítido e agradável, refrescante e de média-longa persistência”, detalha o pesquisador Mauro Zanus. Ele explica que em função dos vinhos-base bem elaborados, com uma adequada composição de acidez natural, é possível promover um maior contato com as leveduras (envelhecimento ‘sur lees’) na segunda fermentação na garrafa, adicionando notas de maior complexidade de aroma e sabor.

O que é indicação de procedência e denominação de origem?

No Brasil, a indicação de procedência (IP) e a denominação de origem (DO) são duas modalidades de Indicação Geográfica (IG). A Indicação de Procedência se aplica a produtos de regiões específicas que se tornaram conhecidas, renomadas.

Já a denominação de origem se aplica a produtos de regiões específicas que apresentam qualidades ou características que são conferidas aos produtos pelo meio geográfico, incluídos os fatores naturais (clima, solo e relevo) e fatores humanos (sistemas de produção e elaboração, associados ao saber-fazer).

(Com Embrapa)

(Débora Damasceno/Sou Agro)