PECUÁRIA
Vacas virando churrasco e o leite cada vez mais caro: será que o cenário continua assim?
#souagro| Que o leite está mais caro nas prateleiras do mercado a gente já sabe, mas a pergunta que fica em meio a tudo isso é: o cenário vai permanecer assim? O portal Sou Agro foi em busca dessa resposta, mas antes de saber se isso vai acontecer, foi preciso relembrar os últimos meses para entender como chegamos ao momento atual.
Nicolle Wilsek, é técnica do Departamento técnico e econômico (DTE) do sistema Faep/Senar-PR e explica que os indícios começaram ainda no ano passado: “Essa causa do aumento do preço ela é muito direta. Ela é por conta da baixa oferta e aumento da demanda. Para a gente entender o que levou a essa baixa oferta, nós precisamos voltar uns oito meses atrás lá em outubro do ano de 2021. Em outubro já vinha sinalizando uma situação muito difícil para os produtores de leite. Essa dificuldade, ela é antes do mês de outubro, mas em outubro foi o ápice do agravamento. E de outubro pra cá, muitos produtores não conseguiram sustentar a sua produção. Então produtores que não conseguiam mais controlar a situação dos altos custos produtivos, acabaram deixando a produção”, explicou Nicolle.
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Mas há muitos fatores que geraram essa queda na oferta da produção, a venda das vacas para o uso da carne é um deles: “Com a valorização da carne, muitos produtores acabaram abatendo vacas que tinham baixa produtividade, vacas velhas com algum problema e venderam pra carne e acabou diminuindo essa produção de leite”, disse Nicolle.
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A questão da alimentação do gado leiteiro também foi outro agravamento para a situação atual.
“Somado a isso a gente tem o cenário da quebra das safras e safrinha. Então a safra e safrinha onde não teve muita demanda de milho que é o que serve de alimentação pra esses animais. E aí a gente entra numa outra correlação que a vaca precisa comer para produzir leite. Então a baixa do fornecimento, a baixa da disponibilidade do grão do milho fez com que os animais produzissem menos leite também. Então além do custo estar muito alto, houve a falta da disponibilidade desse alimento. E a falta de alimento gerou também essa situação de eliminação de animais. Além de todos outros fatores, somados com a questão da pandemia, baixo poder de compra do consumidor, a questão do aumento dos combustíveis, principalmente diesel, que mexe com lavouras e manutenção das propriedades. Enfim, tudo isso fez uma situação de a gente levar o custo produtivo na atividade leiteira muito alto”, explicou Nicolle
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E essa falta de oferta no produto também reflete nos subprodutos, afinal sem leite, também há dificuldade em produzir os derivados.
“Hoje o cenário mostra isso pela falta da matéria prima leite. Então aquela consequência da falta do alimento, da desistência dos produtores, gerou agora nesse mês, nos últimos 45, 60 dias, a falta de matéria prima nos laticínios, o que acarreta no aumento da matéria prima. E esse aumento não é só para o consumidor final. No varejo, isso acontece nos laticínios também, porque os laticínios não estão tendo matéria prima para revender seja em UHT, leite pasteurizado, mas também para fazer os subprodutos. A exemplo da manteiga, do iogurte, do creme de leite, queijos, enfim todos esses outros produtos está tendo a falta. Então a gente vive um cenário de falta de leite e por essa situação o preço está muito elevado”, detalhou.
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O litro do leite tem chegado a R$ 8 em alguns locais, esse preço pode subir mais, ou há expectativa de queda?
“O que a gente está vivendo com esse aumento significativo ele é muito fora dos padrões que a gente já viveu. Não é uma conjuntura sinalizada pra esse aumento permanecer. Nos anos anteriores, nos meses de inverno, então a gente pode pegar aí junho, julho, agosto há uma maior disponibilidade de forrageiras, principalmente no Paraná e na região Sul. Então é o momento que os produtores eles plantam aveia e há entre essa safra de grãos do milho da soja também, o plantio de forrageiras para fazer a adubação verde. Então essa disponibilidade de forrageiras mais abundantes também é um alimento que serve muito pra produção leiteira. Então os produtores eles conseguem ter uma economia nesse momento, fornecer somente concentrado, milho e rações e podem colocar seus animais de forma extensiva no pastejo ou trazer esse alimento para o coxo, né? Picar essa aveia e trazer para os animais comerem. Com isso o aumento da disponibilidade de alimento, a gente também tem um aumento na produção nos meses de inverno”, detalhou Nicolle.
“Então a gente sinaliza que os próximos meses vai ter uma produção maior. Porém como é uma situação atípica não vivida anteriormente, muitos produtores que passaram esse tempo agora, já não estão mais presente conosco porque pararam a atividade ou abateram um grande número dos seus animais, a gente não pode afirmar que essa queda vai acontecer como aconteceu nos outros anos, mas a conjuntura é de um cenário de diminuição por aumento da oferta de alimento para as vacas e com isso o aumento da produção”, explica Nicolle.
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O custo de produção do produtor de leite está alto, mas como explicar ao consumidor que isso reflete diretamente no produto vendido no mercado?
“É uma questão de cadeia, então a explicação é que para se ter o leite para o consumidor há necessidade da produção. Então tudo que o animal consome no campo, a energia que o produtor rural tem pra manter esse leite refrigerado no campo, o diesel que ele precisa abastecer o seu trator pra fazer o plantio desse alimento ou pra fazer todos os manejos diários com as vacas leiteiras, tudo isso tem um custo, tem um ônus, então isso é repassado na matéria prima final que é o leite. Como é um elo em cadeia, então é o produtor rural, o laticínio, a indústria em si e isso vai para o mercado, para o varejo, enfim, para compra desse consumidor final”, finaliza Nicolle.
(Débora Damasceno/Sou Agro)
(Foto de capa: Envato)