PECUÁRIA
Como o produtor recebe tão pouco e o leite está caro?
#souagro| A maioria dos setores do agronegócio enfrenta dificuldades por conta do alto custo de produção, o setor do gado leiteiro é um deles. Depois de ter que enfrentar os altos custos de concentrados para alimentação do rebanho, agora, os produtores de leite estão tendo que lidar com menor oferta de fertilizantes e a valorização dos nutrientes que chegou a 30% em apenas um mês.
“Além do concentrado estar subindo, eu estou falando de ração, porque milho e soja estão lá nas alturas. Nós também tivemos o problema do adubo, do fertilizante e dos minerais, além da energia elétrica. Então, a situação não está fácil para o produtor”, detalha Paulo Martins Pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
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COMO O PRODUTOR RECEBE TÃO POUCO?
Os preços dos derivados de leite subiram mais que a inflação nos últimos 12 meses, só que ao mesmo tempo o custo de produção aumentou ainda mais, e é aí que a conta não fecha: “Para o consumidor, a inflação nos últimos doze meses foi de 11,3%. Agora pra quem produz leite foi de 23,2%. Nós não podemos cair na simplicidade de imaginar que é fácil resolver o problema do consumidor, destruindo o processo de produção brasileira. Nós precisamos conservar porque por trás de cada vaca tem um produtor, tem uma família, tem brasileiros que estão vivendo honestamente com muita dificuldade, porque as margens do produtor estão muito apertados, como nunca esteve nos últimos dez anos”, explica Paulo Martins.
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PRODUTORES DE LEITE NO PARANÁ
Atualmente no Paraná, o Conseleite faz o trabalho de gerar valores de referência para a livre negociação da matéria-prima leite padrão entre produtores e indústrias. Para realizar as médias mensais, o Conselho utiliza de uma metodologia específica. O uso dos valores do Conseleite pelos produtores varia de acordo com as negociações entre produtores e indústrias, mas a maioria utiliza o valor como referência.
“A partir dos preços e volumes dos derivados lácteos comercializados pelas empresas participantes e por meio de um modelo técnico e econômico construído em conjunto com a Câmara Técnica. Os valores de referência levam em conta parâmetros de qualidade e volume do leite produzido pelos produtores e entregue as indústrias participantes”, explica Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Para se ter uma ideia na última reunião do Conseleite-PR, o valor de referência do litro na parcial de março fechou em R$ 2,041. O valor supera em R$ 0,193 os R$ 1,847 de fevereiro, ou seja, uma alta de 10,47%. Mas para os integrantes do Conselho essa variação elevada reflete especialmente a diminuição no volume disponível de leite causada pelos altos custos de produção e também a redução no poder aquisitivo do brasileiro com as altas taxas de inflação e de juros. Todos os lácteos analisados pelo Conseleite-PR na parcial de março comparados com fevereiro tiveram aumento no valor de referência. Mas isso não significa que o cenário esteja favorável, pois isso reflete um cenário atípico com custos de produção recordes e queda no consumo.
Segundo Nicolle, a diferença de preço no mercado e o pago aos produtores ocorre entre valores praticados pelo varejo, que trabalham com margens muito acima do valor pago as indústrias. Nicolle explica ainda, que muitos fatores geram essa crise enfrentada atualmente pelos produtores: “A seca tem grande participação nos problemas enfrentados pelos produtores, a falta de chuva ocasionou quebra de safra – falta direta de alimento e aumento exorbitante nos custos produtivos (insumos, grãos, volumoso, energia elétrica…). Outro problema com relato frequente é sobre a mão de obra, hoje difícil de encontrar e assim, com valores de salários altos”.
EXPECTATIVA DE MELHORIAS
Com tantas dificuldades, o produtor quer saber se há expectativas para que o mercado se reestabeleça e a situação seja amenizada: “Acredita-se que com a safrinha esboçando bons resultados e com a queda na oferta de leite no mercado, o preço praticado aos produtores irá ter melhoras nos próximos meses. Ressalva-se que tudo é muito instável, o mercado está com vários fatores externos não previsíveis (reflexo econômico da pandemia, guerra, seca…)”, finaliza Nicolle.
(Débora Damasceno/ Sou Agro)
(Fotos: Arquivo pessoal e reprodução internet – Imagens cedidas: Terra Viva)