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Guerra pode impactar em negócios do agro no oeste
#souagro | Não se fala em outra coisa no mundo a não ser o conflito armado entre Rússia e Ucrânia. Os reflexos dessa guerra étnica já começam a ser sentidos em todo o mundo, afetando diferentes segmentos, com destaque para os setores de abastecimento e agronegócio. Para entender melhor de que forma esse cenário poderá afetar o Paraná e mais especificamente o oeste do Estado, o Portal Sou Agro buscou respostas com algumas cooperativas da região.
No entendimento de uma das maiores lideranças do cooperativismo e agronegócio do Brasil, Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, a ação militar da Rússia em território ucraniano certamente provocará “alguns dissabores ao mercado internacional”.
Veja a entrevista sobre o assunto concedida pelo presidente da Coopavel, Dilvo Grolli:
Segundo Grolli, a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de milho e trigo. Este último, por exemplo, os dois países exportam 28% de todo o mercado mundial. Por sua vez, o milho corresponde a 18%. “Isso abre oportunidade para crescer o valor do milho, do trigo e da soja também. Temos observado nos últimos 60 dias, a soja já subiu na Bolsa de Chicago em torno de 25%, além do milho e do trigo, alta de 15%”, pontua Grolli. “Essa situação faz com que o Brasil, neste momento, tire vantagem pelo preço internacional desses produtos”. Porém – continua Dilvo -, temos uma desvantagem nestas commodities que é o valor do dólar. “Nós perdemos em torno de 8% desde 2 de janeiro até hoje. O dólar estava R$ 5,58 e hoje fechou em R$ 5,15. “Mas, mesmo com essa perda do dólar, temos uma vantagem grande em relação aos valores das commodities, principalmente milho, trigo e soja, principais grãos que produzimos no oeste e sudoeste do Paraná”.
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Quanto às carnes, Dilvo cita que o Brasil exporta para esses locais, principalmente a carne bovina para a Rússia, nada tão expressivo e também a carne suína. O problema mais Sérgio, na ótica de Dilvo Grolli, é com relação ao adubo. “O Brasil depende de 85% dos fertilizantes enviados pelo mercado internacional, que totalizam 46 milhões de toneladas”. Mundialmente, a Rússia é a primeira exportadora de nitrogênio, a segunda de potássio e a terceira exportadora mundial de fósforo. “Ano passado tivemos um aumento dos preços dessas matérias-primas, em torno de 100% a 200%. Com esta guerra, teremos também alguns transtornos na matéria-prima do adubo”. Então se ganhará com as commodities, soja, milho e trigo nas exportações, mas a guerra trará mais transtornos em relação aos preços dos fertilizantes. “Temos que aguardar: há transtornos sim e há uma instabilidade mundial também sobre as sanções econômicas dessa guerra. Quais países que vão aplicar essas sanções a outros países e certamente, um país que participa ativamente do mercado internacional, com exportações de mais de US$ 120 bilhões por ano de produtos agropecuário, precisamos ficar atentos, mas teremos sim alguns transtornos”.
Em contato com a Assessoria de Imprensa da C.Vale, obtivemos como retorno que “a posição da C.Vale é a de aguardar o desdobramento do conflito, já que, até o momento, não houve mudança em nossas vendas ao mercado externo”.
Já o Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná), pretende se manifestar sobre o assunto nesta sexta-feira.
Em entrevista ao Bem Paraná, o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, afirma que a situação preocupa, principalmente o segmento dos granéis de importação, especialmente dos adubos. “Para se ter uma ideia, das quase 11,5 milhões de toneladas importadas de fertilizante no ano passado, cerca de 2,35 milhões, mais de 20%, vêm da Rússia”, afirma.
A Ucrânia, diz Garcia, não é região tradicionalmente produtora de fertilizantes. “A preocupação realmente é com a Rússia que, com a guerra, tende a suspender as atividades portuárias e o comércio com os países, principalmente ocidentais”. O Paraná tem a maior comunidade ucraniana no Brasil.
De acordo com o gerente executivo do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Décio Luiz Gomes, tanto a Rússia como o país vizinho, Belarus, são grandes produtores de fertilizantes, principalmente o cloreto de potássio.
“A apreensão é quanto aos problemas logísticos para escoar esses produtos. A invasão da Rússia à Ucrânia complica ainda mais a situação que já estava delicada com a Belarus, outro importante mercado”, afirma.
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Dificilmente os portos do Paraná recebem navios com bandeiras desses países (Rússia, Ucrânia ou Belarus). Segundo o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Paraná (Sindapar), Argyris Ikonomou, a preocupação não é tanto com a mão de obra, no caso, das tripulações. “A possibilidade de impacto negativo que consigo enxergar, no momento, seria a dificuldade, alto risco e o aumento do valor dos fretes para navios que, a partir de agora, vão escalar em portos da Rússia para carregamento de fertilizantes, por exemplo”, diz.
(Vandré Dubiela/Sou Agro)