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PECUÁRIA

Ano atípico para a pecuária de corte

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Vandre Dubiela
Vandre Dubiela

 

O ano de 2021 foi extremamente atípico para a pecuária de corte brasileira. “Antes do embargo chinês a carne brasileira, que se prolongou por muito mais tempo do que o esperado, com a janela de exportação ao nosso principal mercado ficando fechada por mais de cem dias, o ano já vinha sendo pautado por um volume historicamente baixo de animais abatidos”, diz o analista de SAFRAS & Mercado, Fernando Henrique Iglesias. De janeiro a agosto de 2021, cerca de 20,1 milhões de cabeças de boi haviam sido abatidas, enquanto no mesmo período do ano passado o país havia abatido em torno de 20,9 milhões de cabeças. Assim, o volume de abates deve fechar o ano de 2021 com o nível mais baixo desde 2009, conforme expectativas da consultoria.

Mesmo findo o embargo, os problemas se acentuaram do setor se acentuaram, em um ambiente de forte mudança do potencial de consumo de proteínas de origem animal. Segundo Iglesias, os frigoríficos se viram obrigados a ampliar a capacidade ociosa para se ajustarem a uma nova realidade, mais centrada no consumo doméstico, com as exportações parcialmente bloqueadas.

De acordo com dados do Serviço de Inspeção de Federal (SIF), durante o mês de setembro houve retração do volume de animais abatidos na ordem de 28%, e, em outubro, a queda foi de mais de 20%. “Ou seja, durante este período turbulento, de instabilidade, o Brasil produziu menos carne bovina”, assinalou Iglesias.

“O embargo chinês se prolongou por muito mais tempo do que o imaginado. Foram mais de 100 dias com a ausência do principal importador de carne bovina brasileira”, salientou o analista. Essa lacuna gerou uma série de distorções no mercado pecuário brasileiro. A primeira consequência foi uma severa depressão nos preços entre os meses de setembro e outubro, período em que os frigoríficos e pecuaristas tiveram que se adequar a uma nova realidade em termos de consumo doméstico. A queda dos preços atingiu a ordem R$ 60 por arroba, caindo ao nível de R$ 250.

Em novembro, com a oferta mais restrita, após o auge do confinamento do país, os preços encontraram espaço para rápida reação, com a arroba do boi gordo negociada em até R$ 330,00 no mercado paulista. Na primeira quinzena de dezembro o mercado apresentava novo movimento de queda em seus preços, considerando que a programação para atender a demanda doméstica no final de ano já estava definida.

Entretanto, essa dinâmica mudou completamente com o recredenciamento das exportações brasileiras destinadas à China. O mercado que apresentava indícios de maior tranquilidade até a virada de ano assume uma figura diferente neste momento, com os frigoríficos exportadores ampliando sua capacidade de abates e iniciando mesmo que timidamente a busca por animais padrão China.

(Vandre Dubiela/Sou Agro)