Há cinco mil anos, a região onde hoje é o município de Itajaí, era uma floresta. Aos poucos o oceano foi subindo e, quando estava entre três a quatro metros acima do nível de hoje, alagou aquela floresta. O mar recuou, mas deixou um importante legado para Itajaí: as áreas de turfa. Turfa é um material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado em camadas no solo, geralmente em regiões pantanosas e também sob montanhas.
Antônio Henrique dos Santos, engenheiro-agrônomo e extensionista da Epagri em Itajaí, conta que é fácil comprovar todo esse movimento da natureza há milhares de anos. Segundo ele, para conseguir cultivar, agricultores locais tiveram de remover do solo inúmeros troncos fossilizados de árvores, como canela, olandim e ipê. Poços artesianos com 30 metros de profundidade alcançaram água salgada. Além disso, escavações de canais de drenagem mais profundos revelam conchas do mar em áreas hoje ocupadas pela turfa.
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A turfa de Itajaí é “pura matéria orgânica”, como define Henrique. As áreas vêm sendo aproveitadas pelos agricultores familiares para cultivo de aipim. “A turfa de Itajaí é rica em polifenóis e muito solta, conferindo ao aipim ótimo sabor e pouca fibra, características percebidas pelos consumidores”, relata o extensionista
A partir dessa percepção, Epagri, Secretaria de Estado da Agricultura, prefeitura e Sebrae se uniram aos agricultores para dar início ao processo de obtenção de uma Indicação Geográfica (IG) para o aipim de turfa de Itajaí. O registro de Indicação Geográfica é conferido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado.
O processo teve início em 2019, mas a pandemia paralisou as atividades, que foram retomadas em 2022, desde quando estão sendo realizadas reuniões envolvendo as partes. Neste ano, a Secretaria de Estado da Agricultura entrou com a verba necessária para início do levantamento a ser feito pelo Sebrae.
A Epagri tem papel fundamental como animadora do processo, estimulando e organizando os agricultores e as instituições envolvidas. Caberá à Empresa ainda fazer a caracterização do meio ambiente, o levantamento socioeconômico, entre outras ações.
Visita de pesquisador estrangeiro
A turfa de Itajaí chamou a atenção do ecólogo Felix Beer, doutorando da Greifswald University, localizada no Norte da Alemanha. Ele esteve em Florianópolis entre 30 de julho e 4 de agosto, participando do Solos Floripa, maior evento de ciência do solo da América Latina e Caribe. Na ocasião, ele apresentou trabalho prático sobre análise de solos turfosos.
O pesquisador da universidade alemã aceitou convite do extensionista da Epagri e foi pessoalmente conhecer a turfa de Itajaí. Segundo Antônio, a visita lhe permitiu agregar novos conhecimentos e trocar informações sobre o manejo destas áreas, pouco conhecidas pelos técnicos catarinenses.
Antônio explica que determinadas características da turfa de Itajaí necessitam ser melhor avaliadas, dentre elas, a densidade destes solos, que confere poucas fibras ao aipim, e a presença de polifenóis, que transmitem ao alimento sabor, cheiro e substâncias benéficas à saúde. “Através do contato com este e com outros especialistas de Greifswald, esperamos evoluir neste trabalho de extensão rural”, detalha.
(Com Epagri)