Apesar da projeรงรฃo de reduรงรฃo da inflaรงรฃo, juros altos ainda travam o agro

O Banco Central revisou para baixo a previsรฃo da inflaรงรฃo oficial deste ano, que passou de 5,65% para 5,57%. Mesmo assim, o รญndice continua acima do teto da meta definida pelo governo, o que mantรฉm o alerta ligado โ principalmente para quem depende de crรฉdito para produzir.
A expectativa do prรณprio Banco Central รฉ que a inflaรงรฃo sรณ volte ao centro da meta nos prรณximos anos. Enquanto isso, a principal ferramenta de controle continua sendo a taxa bรกsica de juros (Selic), hoje em 14,25% ao ano e com tendรชncia de subir para 15% atรฉ dezembro.
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Com o juro nesse nรญvel, o crรฉdito rural fica mais difรญcil de acessar. Bancos travam o financiamento, os custos sobem, e muitos produtores acabam adiando investimentos, diminuindo o plantio ou cortando gastos com tecnologia e estrutura.
Se antes era possรญvel financiar uma safra com certa tranquilidade, agora o produtor pensa duas vezes. E quem mais sofre รฉ o pequeno e mรฉdio agricultor, que nรฃo tem capital de giro para bancar tudo no prรณprio bolso.
Essa situaรงรฃo limita o crescimento da produรงรฃo, atrasa modernizaรงรตes e impede que o agro avance como poderia, mesmo com preรงos internacionais favorรกveis para muitas commodities.
A cotaรงรฃo do dรณlar, prevista para sem manter na casa de R$ 5,90 atรฉ o fim do ano, pode ser boa notรญcia para exportadores de grรฃos, carnes e outros produtos do agro. Com a moeda americana mais cara, o Brasil vende melhor no mercado internacional.
Por outro lado, o custo dos insumos importados tambรฉm sobe: fertilizantes, defensivos, sementes e atรฉ peรงas de maquinรกrio agrรญcola ficam mais caros. O produtor acaba tendo que gastar mais para produzir, o que diminui a margem de lucro, principalmente para quem vende no mercado interno.
Embora o รญndice geral da inflaรงรฃo tenha diminuรญdo, os alimentos continuam subindo e pesando no orรงamento do consumidor. Em marรงo, por exemplo, a inflaรงรฃo foi puxada principalmente pela alta no preรงo dos alimentos.
Para Isan Rezende, presidente do Instituto do Agronegรณcio (IA), a reduรงรฃo na previsรฃo da inflaรงรฃo รฉ positiva do ponto de vista macroeconรดmico, mas seus efeitos prรกticos no campo ainda sรฃo limitados.
โO produtor rural continua enfrentando juros muito altos, o que dificulta o acesso ao crรฉdito. Mesmo com a inflaรงรฃo recuando, a taxa Selic segue subindo, e isso freia o investimento, principalmente dos pequenos e mรฉdios agricultores que dependem de financiamento para tocar a produรงรฃoโ, afirma.
Rezende destaca que o custo de produรงรฃo segue elevado, pressionado por fatores como energia, combustรญveis e insumos importados. โA inflaรงรฃo mais baixa nรฃo significa alรญvio imediato para quem estรก no dia a dia do campo. A valorizaรงรฃo do dรณlar atรฉ ajuda nas exportaรงรตes, mas encarece tudo que a gente precisa importar. E quem vende para o mercado interno ainda sofre com a retraรงรฃo do consumo, o que aperta ainda mais a margem de lucroโ, explica.
Ele tambรฉm alerta que a instabilidade nas decisรตes econรดmicas gera inseguranรงa para o setor. โO produtor precisa de previsibilidade. Sem confianรงa no cenรกrio, muitos acabam adiando investimentos, reduzindo o plantio ou evitando contrataรงรตes. Uma economia que cresce pouco e mantรฉm juros altos prejudica diretamente o agronegรณcio, que รฉ justamente o motor da economia brasileira. Precisamos de uma polรญtica mais equilibrada para que o campo continue gerando emprego, renda e alimentos para o paรญsโ, completa Rezende.
Para o produtor, isso nem sempre significa lucro. Muitas vezes o valor recebido na lavoura nรฃo acompanha o que รฉ cobrado no supermercado, porque hรก perdas na cadeia, custos altos com transporte e logรญstica, e margens apertadas para o produtor primรกrio.
A projeรงรฃo de crescimento da economia brasileira foi ajustada para 2% em 2025. Nรฃo รฉ ruim, mas tambรฉm nรฃo empolga. O Banco Central reconhece que a economia estรก aquecida em alguns setores, mas vรช sinais de desaceleraรงรฃo.
Para o agro, isso significa um mercado interno menos animado, com o consumo patinando e mais dificuldade para escoar a produรงรฃo. Sem contar os riscos no cenรกrio internacional, como conflitos, clima extremo e oscilaรงรฃo nos preรงos das commodities.
Com a inflaรงรฃo um pouco mais controlada, mas os juros ainda nas alturas, o agro brasileiro vive um momento de atenรงรฃo redobrada. O cenรกrio mistura oportunidades e desafios: o dรณlar favorece exportaรงรตes, mas o crรฉdito caro atrapalha investimentos; a inflaรงรฃo cai no papel, mas os custos seguem altos no campo.
O produtor precisa estar atento aos movimentos da economia, planejar bem o uso dos recursos e, sempre que possรญvel, buscar alternativas para reduzir a dependรชncia de financiamentos caros. A cautela, mais do que nunca, virou insumo essencial na propriedade rural.
(Com Feagro)