Apesar da projeรงรฃo de reduรงรฃo da inflaรงรฃo, juros altos ainda travam o agro

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Imagem: Canva

O Banco Central revisou para baixo a previsรฃo da inflaรงรฃo oficial deste ano, que passou de 5,65% para 5,57%. Mesmo assim, o รญndice continua acima do teto da meta definida pelo governo, o que mantรฉm o alerta ligado โ€” principalmente para quem depende de crรฉdito para produzir.

A expectativa do prรณprio Banco Central รฉ que a inflaรงรฃo sรณ volte ao centro da meta nos prรณximos anos. Enquanto isso, a principal ferramenta de controle continua sendo a taxa bรกsica de juros (Selic), hoje em 14,25% ao ano e com tendรชncia de subir para 15% atรฉ dezembro.

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Com o juro nesse nรญvel, o crรฉdito rural fica mais difรญcil de acessar. Bancos travam o financiamento, os custos sobem, e muitos produtores acabam adiando investimentos, diminuindo o plantio ou cortando gastos com tecnologia e estrutura.

Se antes era possรญvel financiar uma safra com certa tranquilidade, agora o produtor pensa duas vezes. E quem mais sofre รฉ o pequeno e mรฉdio agricultor, que nรฃo tem capital de giro para bancar tudo no prรณprio bolso.

Essa situaรงรฃo limita o crescimento da produรงรฃo, atrasa modernizaรงรตes e impede que o agro avance como poderia, mesmo com preรงos internacionais favorรกveis para muitas commodities.

A cotaรงรฃo do dรณlar, prevista para sem manter na casa de R$ 5,90 atรฉ o fim do ano, pode ser boa notรญcia para exportadores de grรฃos, carnes e outros produtos do agro. Com a moeda americana mais cara, o Brasil vende melhor no mercado internacional.

Por outro lado, o custo dos insumos importados tambรฉm sobe: fertilizantes, defensivos, sementes e atรฉ peรงas de maquinรกrio agrรญcola ficam mais caros. O produtor acaba tendo que gastar mais para produzir, o que diminui a margem de lucro, principalmente para quem vende no mercado interno.

Embora o รญndice geral da inflaรงรฃo tenha diminuรญdo, os alimentos continuam subindo e pesando no orรงamento do consumidor. Em marรงo, por exemplo, a inflaรงรฃo foi puxada principalmente pela alta no preรงo dos alimentos.

Para Isan Rezende, presidente do Instituto do Agronegรณcio (IA), a reduรงรฃo na previsรฃo da inflaรงรฃo รฉ positiva do ponto de vista macroeconรดmico, mas seus efeitos prรกticos no campo ainda sรฃo limitados.

โ€œO produtor rural continua enfrentando juros muito altos, o que dificulta o acesso ao crรฉdito. Mesmo com a inflaรงรฃo recuando, a taxa Selic segue subindo, e isso freia o investimento, principalmente dos pequenos e mรฉdios agricultores que dependem de financiamento para tocar a produรงรฃoโ€, afirma.

Rezende destaca que o custo de produรงรฃo segue elevado, pressionado por fatores como energia, combustรญveis e insumos importados. โ€œA inflaรงรฃo mais baixa nรฃo significa alรญvio imediato para quem estรก no dia a dia do campo. A valorizaรงรฃo do dรณlar atรฉ ajuda nas exportaรงรตes, mas encarece tudo que a gente precisa importar. E quem vende para o mercado interno ainda sofre com a retraรงรฃo do consumo, o que aperta ainda mais a margem de lucroโ€, explica.

Ele tambรฉm alerta que a instabilidade nas decisรตes econรดmicas gera inseguranรงa para o setor. โ€œO produtor precisa de previsibilidade. Sem confianรงa no cenรกrio, muitos acabam adiando investimentos, reduzindo o plantio ou evitando contrataรงรตes. Uma economia que cresce pouco e mantรฉm juros altos prejudica diretamente o agronegรณcio, que รฉ justamente o motor da economia brasileira. Precisamos de uma polรญtica mais equilibrada para que o campo continue gerando emprego, renda e alimentos para o paรญsโ€, completa Rezende.

Para o produtor, isso nem sempre significa lucro. Muitas vezes o valor recebido na lavoura nรฃo acompanha o que รฉ cobrado no supermercado, porque hรก perdas na cadeia, custos altos com transporte e logรญstica, e margens apertadas para o produtor primรกrio.

A projeรงรฃo de crescimento da economia brasileira foi ajustada para 2% em 2025. Nรฃo รฉ ruim, mas tambรฉm nรฃo empolga. O Banco Central reconhece que a economia estรก aquecida em alguns setores, mas vรช sinais de desaceleraรงรฃo.

Para o agro, isso significa um mercado interno menos animado, com o consumo patinando e mais dificuldade para escoar a produรงรฃo. Sem contar os riscos no cenรกrio internacional, como conflitos, clima extremo e oscilaรงรฃo nos preรงos das commodities.

Com a inflaรงรฃo um pouco mais controlada, mas os juros ainda nas alturas, o agro brasileiro vive um momento de atenรงรฃo redobrada. O cenรกrio mistura oportunidades e desafios: o dรณlar favorece exportaรงรตes, mas o crรฉdito caro atrapalha investimentos; a inflaรงรฃo cai no papel, mas os custos seguem altos no campo.

O produtor precisa estar atento aos movimentos da economia, planejar bem o uso dos recursos e, sempre que possรญvel, buscar alternativas para reduzir a dependรชncia de financiamentos caros. A cautela, mais do que nunca, virou insumo essencial na propriedade rural.

(Com Feagro)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciรชncias Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veรญculos de comunicaรงรฃo impressos. Atuou na Assessoria de Comunicaรงรฃo para empresas e eventos, alรฉm de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuaรงรฃo. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relaรงรฃo com o Jornalismo especializado, com รชnfase no setor do Agronegรณcio.

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