Foto: Sinval Lopes
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Que tal investir em uma biofábrica? Embrapa diz que é viável

Foto: Sinval Lopes
Redação Sou Agro
Redação Sou Agro

A viabilidade econômico-financeira para implantação de uma biofábrica de Bacillus thuringiensis (Bt) foi avaliada em um detalhado plano de negócios elaborado na Embrapa. A capacidade de produção considerada foi de mil litros por dia. O trabalho teve por objetivo avaliar a efetividade e custos para a instalação de biofábricas para a multiplicação e comercialização de B. thuringiensis (Bt) de forma inovadora. O estudo revela que é viável aproximar as biofábricas do setor produtivo. Com um investimento de aproximadamente R$ 2,1 milhões, a receita de faturamento anual é de R$ 18 milhões.

O estudo demonstra que, com inteligência competitiva e assessoria técnica da Embrapa, para o controle de qualidade, é possível executar o projeto e fornecer bioinseticidas para o controle de pragas da ordem lepidóptera, em diferentes culturas. As lepidópteras são popularmente conhecidas como mariposas e borboletas, e atacam as culturas em sua fase jovem: na forma de lagarta.

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“Contemplamos o custo de uma biofábrica de 120 m² para a produção de insumos a serem aplicados em diferentes culturas, desde commodities, como o milho, a soja e o algodão, até o setor de hortifrutigranjeiros”, declara Sinval Resende Lopes, engenheiro-agrônomo do setor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo (MG).

“Dividimos as informações em receitas, custos, investimentos, impostos, taxas e depreciação para construir o fluxo de caixa”, explica Lopes. Os dados técnicos e financeiros utilizados na pesquisa foram fornecidos por empresas do setor de insumos biológicos e pelos trabalhos do pesquisador Fernando Hercos Valicente, também da Embrapa.

Os custos avaliados para a produção de mil litros diários consideraram o tempo de fermentação das bactérias, que é de 48 horas. Dessa forma, tem-se uma produção de 15 mil litros de bioinseticida por mês. O valor médio de venda do bioinseticida à base de B. thuringiensis no mercado é de R$ 120,00 o litro. “Sugerimos, nesse modelo de negócios, a distribuição por meio de representações regionais, para ofertar o produto a R$ 100,00 o litro. Assim,  os 15 processos de fermentação mensais resultarão em 180 mil litros de produção por ano e a receita anual da biofábrica será de R$ 18 milhões”, pontua Lopes.

Estrutura da biofábrica e viabilidade do projeto

A estrutura de 120 m² da biofábrica abrange uma área de utilidades, um laboratório de qualidade e processos, uma sala de fermentação, uma sala de estoque de insumos e uma sala de armazenamento de produto acabado. Os espaços para a recepção e administração também compõem o projeto.

O método utilizado para análise da viabilidade econômica consiste em um fluxo de caixa contendo o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), o Payback e Retorno sobre o investimento (ROI) (veja quadro no fim da matéria). Um projeto é considerado viável quando apresenta uma receita positiva entre receitas e custos, atualizados para uma determinada taxa de desconto. No projeto, a biofábrica de Bt apresentou VPL de pouco mais de R$ 5 milhões, considerando uma taxa de desconto real de 5,78% ao ano. A TIR foi de 18%, significando que o projeto é viável e tem um retorno sobre o investimento inicial. O payback, tempo de retorno do investimento, será de seis meses. O retorno sobre o investimento (ROI) foi de 1,64” conta Lopes.

Coleção de Baculovirus e Bacillus thuringiensis

No estudo, os pesquisadores relatam que o Brasil tem uma área plantada estimada em torno de 67 milhões de hectares de milho e soja. Somente as áreas de milho de primeira e segunda safra totalizam 22,2 milhões de hectares, segundo dados publicados pela Conab, em 2023.

Vários insetos atacam constantemente as lavouras brasileiras. Mas, os lepidópteros aparecem com maior frequência e, muitas vezes, causam sérios danos às culturas. Segundo Valicente, uma das bactérias mais utilizadas no controle dessas pragas é a Bacillus thuringiensis. “É uma bactéria em formato de bastonete. Forma esporos e, durante a esporulação, produz inclusões cristalinas altamente específicas. Estas inclusões são responsáveis pela atividade tóxica da bactéria nos insetos. É de extrema importância o controle desses insetos, para evitar perdas econômicas significativas”, alerta o pesquisador.

A Embrapa Milho e Sorgo possui uma Coleção de Microrganismos Multifuncionais e Fitopatogênicos (CMMF), com cerca de 11 mil acessos de diversas espécies de microrganismos, os quais foram isolados a partir de solos coletados desde 1990 em diferentes regiões do Brasil.

“Esses acessos de microrganismos, principalmente Baculovirus e Bacillus thuringiensis, têm sido amplamente caracterizados quanto ao potencial de uso para o desenvolvimento de novos bioinseticidas, que sejam eficientes no controle de insetos-praga em culturas agrícolas, como o milho, a soja e o algodão.  O uso de bioinseticidas é uma alternativa mais sustentável para o controle de insetos-praga, uma vez que não apresenta riscos ao ambiente e à saúde humana e animal”, explica a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Milho e Sorgo, Maria Marta Pastina.

 

Biofábricas de Bacillus thuringiensis (Bt)

A Embrapa procura auxiliar no desenvolvimento e na ampliação do uso de bioinsumos, visando ao fortalecimento da bioeconomia e à sustentabilidade da agricultura brasileira. Nesse intuito, a Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), iniciou o projeto Rede de Biofábricas.

Pastina comenta que essa iniciativa tem objetivos específicos, que incluem o desenvolvimento de bioinseticidas, utilizando protocolos de produção e de controle de qualidade elaborados e validados pela Embrapa. A capacitação de profissionais para o desenvolvimento, produção e uso de insumos biológicos e a captação de novos parceiros, com perfil empreendedor que tenham interesse em instalar novas biofábricas no território nacional, complementam os propósitos do trabalho.

“Assim, a partir desse projeto, a Embrapa Milho e Sorgo busca contribuir para o desenvolvimento de insumos biológicos de alta qualidade, isentos de qualquer contaminação com microrganismos que sejam nocivos ao ambiente ou à saúde humana e animal. Além disso, o projeto também busca contribuir com a geração de novas oportunidades de trabalho e de empreendedorismo para o desenvolvimento regional e nacional de uma agricultura mais sustentável”, relata Pastina.

 

(Sandra Brito – Embrapa Milho e Sorgo)

(Redação Sou Agro/Sou Agro)