Aquecimento incrível e extraordinário na Antártida vai impactar no Brasil

Redação Sou Agro
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As temperaturas superficiais em partes da Antártida subiram quase 30ºC acima do normal nos últimos dias. Embora não seja calor e o clima seja congelante, os cientistas descrevem como uma “onda de calor” antártica, um evento raro e de longa duração que ocorre pela segunda vez em dois anos, o que preocupa os cientistas pelas mudanças no clima. O incrível e extraordinário evento de aquecimento na Antártida terá impacto no Brasil.

“Essa onda de calor é um evento quase recorde (ou recorde) para a região da Antártida em que está tendo o maior impacto”, disse Edward Blanchard, cientista atmosférico da Universidade de Washington, em um e-mail ao jornal Washington Post. “Atinge uma grande parte da Antártida Oriental, que compõe a maior parte do continente”, destaca.

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A “onda de calor” polar chega no meio do inverno antártico, quando a temperatura na região atinge marcas em média de 20ºC negativos com picos de até -70ºC ou -80ºC em algumas estações. As anomalias positivas de temperatura estão entre as mais altas no planeta. São vários dias seguidos em que estações na Antártida registram marcas 20ºC a 30ºC acima do normal. Como comparação o que representa uma anomalia de temperatura de 30ºC, é como se Porto Alegre tivesse 60ºC de temperatura numa tarde de janeiro, mês que tem média máxima de 31ºC na capital gaúcha, onde o recorde de máxima é 40,7ºC (1º/1/1943).

As temperaturas vinham acima a muito acima da média desde a maior parte de julho, mas no final do mês e neste começo de agosto os desvios positivos de temperatura aumentaram ainda mais com extremos muito raros. A estação do Polo Sul teve seu julho mais quente desde 2002, cerca de 6,3ºC acima da média, de acordo com o analista de temperatura da Antártida Stefano Di Battista. De 20 a 30 de julho, a temperatura média na estação foi -47,6ºC, que é uma temperatura típica para o final de fevereiro, no fim do verão na Antártida. Vostok, no centro da camada de gelo oriental, teve seu julho mais quente desde 2009, cerca de 6,5ºC acima da média. “A onda de calor no Planalto Antártico é extraordinária mais por sua duração do que por sua intensidade, embora alguns valores sejam notáveis”, disse Di Battista.

Embora grandes partes do continente tenham sido excepcionalmente quentes nos últimos dias, uma onda de frio trouxe frio extremo em parte da Antártida em julho. No dia 17, as estações meteorológicas em Dome Fuji despencaram para -82,1ºC, segunda temperatura mais baixa de julho já registrada.

POR QUE A “ONDA DE CALOR” NA ANTÁRTIDA?

As temperaturas de inverno na Antártida flutuam muito devido à falta de luz solar, mas essa “onda de calor” é um desvio muito maior do que o normal. Não há uma resposta para as suas causas, mas os cientistas acreditam que pode estar ligada ao que ocorre na alta atmosfera, a cerca de 30 quilômetros acima da superfície, na estratosfera. A estratosfera contém uma forte faixa de ar frio e baixa pressão girando em torno de cada polo, conhecido como vórtice polar. O vórtice é tipicamente forte e estável durante o inverno no Hemisfério Sul. Mas neste ano ondas atmosféricas enfraqueceram o vórtice, fazendo com que as temperaturas de alta altitude subissem em evento chamado de Aquecimento Estratosférico Repentino.

Os dados mostram que o evento repentino de aquecimento estratosférico também está afetando a atmosfera inferior. Houve o enfraquecimento do cinturão de ventos de Oeste ao redor da Antártida, comumente chamado de corrente de jato. O vórtice polar está perturbado e fora da configuração normal, com dois centros de circulação e não apenas um (imagem acima). Isso permitiu que o ar frio normalmente confinado perto do Polo Sul se desviasse para o Norte em direção à Nova Zelândia, Sul da África e sul da América do Sul, como uma porta de geladeira deixada aberta. À medida que o frio escapou da Antártida Oriental, as temperaturas aumentaram drasticamente perto do Polo Sul em resposta.

OSCILAÇÃO ANTÁRTIDA EM VALORES BAIXOS RAROS

O enfraquecimento do cinturão de ventos ao redor da Antártida é identificado pelo que se denomina de Oscilação Antártica, uma variável que prestamos muito atenção na MetSul Meteorologia porque ela tem influência em chuva, chegada de massas de ar frio e mesmo formação de ciclones no Atlântico Sul. A chamada Oscilação Antártica (AAO) ou Modelo Anular Sul ou Meridional é uma das mais importantes variáveis que impacta as condições no Brasil e no Hemisfério Sul, tanto na chuva como na temperatura. Os seus valores neste começo de agosto estão com desvios sigma de até -4 a -5, muito abaixo do normal com valores raro de se observar.

Do que se trata a oscilação? Trata-se de um índice de variabilidade relacionado ao cinturão de vento e de baixas pressões ao redor da Antártida. A Oscilação Antártica tem duas fases. A positiva e a negativa. Na positiva, o cinturão de vento ao redor da Antártida se intensifica e se contrai em torno do Polo Sul. Já na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para Norte, no sentido do Equador, obviamente sem atingir a faixa equatorial.

 

Com a maior ondulação da corrente de jato na fase negativa, crescem as chances de episódios de chuva mais volumosa e ciclones. Estudos mostram que na fase negativa há uma maior propensão para chuva no Sul e Sudeste do Brasil. Independente da condição do Pacífico (El Niño, neutralidade e La Niña), períodos de AAO- (fase negativa) têm potencial de incrementar a precipitação no Sudeste da América do Sul com maior frequência de ingresso de massas de ar frio de origem polar nos meses de inverno.

E COMO ESTES EXTREMOS NA ANTÁRTIDA VÃO NOS IMPACTAR?

A perturbação do vórtice polar com temperatura absurdamente acima do normal perto do Polo Sul, com ventos mais fracos ao redor do continente gelado, acabará por trazer impactos no Brasil e que serão sentidos já nos próximos dias. O que vai acontecer? Com a Oscilação Antártica atipicamente negativa e por efeito os ventos mais fracos em torno da Antártida, abre-se a porta para o escape de ar muito frio para Norte em direção às latitudes médias na América do Sul, Sul da África, Austrália e Oceania.

No nosso caso, modelos numéricos já indicam uma incursão de ar gelado nas latitudes médias da América do Sul no final desta semana que vai trazer muito frio para o Sul do Brasil. Os mesmos dados apontam ainda que no começo da semana que vem há chance de um segundo pulso de ar frio. Com o avanço do ar frio de origem polar mais para Norte, frente fria vai conseguir se deslocar mais ao Norte pelo território brasileiro e levar chuva no auge da estação seca para áreas do Centro-Oeste e do Sudeste, especialmente nos estados do Mato Grosso do Sul e de São Paulo.

(Com Metsul)

(Redação Sou Agro/Sou Agro)

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