Crise e quebra de safra ameaçam o produtor rural brasileiro
Após um crescimento recorde de 15,1% no ano anterior, o PIB (Produto Interno Bruto) da agropecuária brasileira demonstrou um aumento de 39% na última década, enquanto o PIB geral do país subiu 5,5% no mesmo período. O ano passado foi um período fora da curva: clima favorável, produtividade boa e, como resultado, uma safra recorde, superior a 315 milhões de toneladas, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e 320 milhões segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Em 2024, no entanto, as condições climáticas mudaram as expectativas para o setor e as estimativas de safra diminuem a cada novo número divulgado. Com boa parte da safra ainda no campo para ser colhida, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a soja deverá ter produção próxima de 145 milhões de toneladas, um volume ainda elevado, mas abaixo do recorde de 2023. O milho, cuja safrinha já está sendo semeada, também não deve alcançar os níveis anteriores.
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Nesse sentido, a queda na receita agrícola tem reflexo dentro e fora da porteira da fazenda. Preços, clima e incertezas do mercado levam o produtor a avaliar melhor os investimentos. A margem bruta da soja, por exemplo, teve queda de 68% na comparação com a safra 2022/23. Para o milho, primeira safra e segunda safra, a queda foi ainda maior.
Na pecuária leiteira o impacto também foi sentido. Segundo a CNA, com o movimento de retração de preços maior do que o de custos, a margem de lucro dos produtores foi 67,4% menor em outubro de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Diante das incertezas crescentes para 2024, com mudanças na temperatura média e nos índices de chuvas causadas pelo fenômeno El Niño, a CNA ressalta a necessidade de aumentar os recursos para o seguro rural, atualmente em pouco mais de R$ 1 bilhão, mas com uma necessidade estimada pela entidade de R$ 3 bilhões para cobrir cerca de 14 milhões de hectares.
Crise
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado Pedro Lupion (PP-PR) destaca que há uma crise de rentabilidade na agropecuária com os preços dos grãos não cobrindo o custo de produção. “O produtor plantou soja a R$ 140 por saca e agora está vendendo a R$ 90. O pior disso tudo é que são valores praticados que não pagam mais o custo de produção. Uma relação que só piora desde 2023 e corroeu o lucro de quem produz,” disse o deputado, afirmando que “sem lucro, o produtor não investe e, em alguns casos, desiste e vai plantar outra coisa, como milho”, apontou.
Segundo ele, mesmo com a safra ainda em andamento, já está posto que parte dos produtores rurais não conseguirá cumprir financiamentos assumidos. “O que temos hoje é que produtores não estão conseguindo cumprir compromissos e pagar dívidas. Vemos o produtor em dúvida se terá como aplicar ou se endividar mais com compra de equipamentos e insumos”, acrescentou.
Já o ex-presidente da FPA deputado Alceu Moreira (MDB-RS) destacou que a conjuntura atual do setor deve se estender ainda para 2025 e 2026. “É uma crise grande e que vai durar além deste ano. Teremos que reequilibrar o jogo. Não chegamos ao fundo do poço, mas, se o governo não agir em conjunto com o setor, vamos chegar”, pontuou.
O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) enfatizou que será preciso a participação do governo federal na busca por soluções. “Precisamos de política de preço mínimo e um trabalho junto a instituições financeiras para fortalecer o setor.”
“Além do governo federal, continuaremos a busca por soluções no âmbito do parlamento brasileiro para auxiliar os produtores diante dessa crise. Historicamente, testemunhamos o setor agropecuário sustentando a economia brasileira. No entanto, neste ano, tenho dúvidas se conseguiremos manter esse papel,” finalizou o deputado Sérgio Souza (MDB-PR).
(Com Agência FPA)