Pecuária de corte: ações para 2024 são debatidas no Paraná
Integrantes da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP se reuniram, nesta semana, para estruturar ações estratégicas para 2024. Além de traçarem um panorama do mercado, os membros do colegiado discutiram pontos relevantes para o setor, como a rastreabilidade e a necessidade de fortalecimento do Programa Pecuária Moderna. O consenso entre os membros é de que os produtores rurais precisam investir em tecnologia e no compartilhamento de informações técnicas.
Ao longo da reunião, o coordenador de Pecuária de Corte do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Rodrigo César Rossi, apresentou o histórico da criação de bovinos do Estado. Em 1975, quando a bovinocultura começou a se estruturar no Paraná, a meta era reduzir a idade de abate de quatro para três anos. Já em 1996, o Estado lançou o Programa Pecuária de Curta Duração (PCD), com foco no novilho precoce – animal a ser abatido aos 24 meses, com carcaças de 225 quilos (no caso dos machos).
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“Apesar de se produzir um animal diferenciado, vieram dificuldades de comercialização. O Paraná tinha um animal jovem, com carne diferenciada, mas a indústria estava voltada a abater um animal mais velho. Não estava pronta para abater animais jovens. Houve uma dificuldade de posicionar o novilho precoce”, recordou Rossi.
Por causa dessa demanda, surgiram alianças mercadológicas, que valorizaram o produto, apontando que aquele era o caminho. Esse arranjo produtivo viria a dar origem às cooperativas de carnes nobres, que se notabilizam em âmbito nacional por sua excelência e pelos produtos premium que oferecem.
Em 2015, o setor deu mais um passo, com a criação do Programa Pecuária Moderna, instituído sob alguns pilares básicos, como foco na carne de qualidade e em mercados diferenciados, na produção sustentável e em tornar o Paraná em referência nacional no que diz respeito a esses pontos.
A aposta em qualidade faz sentido. Dados do programa demonstram as vantagens dos resultados obtidos pelo Pecuária Moderna, em relação à método tradicional. Além de abater os animais com 24 meses, o peso médio das carcaças também é maior (20 arrobas, ante 18 arrobas da pecuária convencional) e taxa de ocupação das pastagens é melhor. O rendimento das carcaças nos frigoríficos e bonificação paga aos pecuaristas também são mais positivos no Pecuária Moderna.
Apesar disso, os números de produtores que atuam com as bases do programa ainda são pequenos. Em 2022, mais de 107 mil cabeças foram produzidas no Pecuária Moderna, o que representa apenas 8,2% dos abates registrados no Estado. Por isso, a cadeia prevê uma reorganização para cobrar maior ênfase no programa. Entre as ações previstas, está o fortalecimento da assistência técnica do IDR-Paraná, com a contratação de novos extensionistas, o foco em assessorias técnica e gerencial; e a adoção de tecnologia por parte dos pecuaristas.
“As cooperativas de carnes nobres ainda continuam pagando acima do mercado. Mas, conforme os dados do IDR-Paraná, ainda é um número ínfimo em relação ao total de abates do Estado. Nós precisamos nos organizar e investir em tecnologia, para produzir com qualidade”, Rodolpho Botelho, presidente da CT de Bovinocultura de Corte da FAEP
Outros temas
Os membros da CT também debateram a criação de um sistema voluntário de rastreabilidade em bovinos no Brasil. Para os produtores, a iniciativa é positiva, mas difícil de ser implantada em curto prazo. Isso por causa das particularidades de organização da cadeia produtiva, que inviabilizaria principalmente que pequenos pecuaristas aderissem ao processo.
“Estamos em uma cadeia mais longa que a de soja, por exemplo. Na cadeia da soja, é um produtor repassando sua produção para uma cooperativa ou para uma trading. Na bovinocultura de corte, são muitos ciclos. Um [pecuarista] cria, outro confina e engorda, outro elo abate”, observou Botelho. Esse é um tema que a CT vai continuar acompanhando de perto.
Além disso, os integrantes do colegiado também trocaram informações de mercado. Em razão do ciclo pecuário, o setor tem observado a desvalorização do preço da carcaça abatida e dos animais em todas as fases produtivas. Em outro lado, custos de mão de obra, de fertilizantes e de medicamentos pressionaram as margens dos produtores. A previsão é de que 2024 seja um ano de recomposição.
“Provavelmente, ainda não sairemos dessa crise em 2024. A reversão do ciclo só deve começar em 2025, quando devemos entrar numa fase de altas”, disse Botelho. “Agora, é uma época para quem tem caixa acertar plantel, comprar animais e produzir bezerros, para vender os animais em 2025, pegando o mercado em alta. É questão de ter fôlego para aguentar esse processo”, concluiu.
(Com Faep)