Boletim Informativo: da máquina de escrever à era digital
Boletim Informativo, revista do Sistema FAEP/SENAR-PR chega à edição 1600, com foco no produtor rural e informações qualificadas que fazem a diferença no campo.
Foi um início despretensioso. As matérias eram escritas em máquina de escrever. Posteriormente, as páginas eram reproduzidas em máquinas de Xerox e encadernadas artesanalmente. As edições eram, então, distribuídas a produtores rurais, sindicatos rurais e autoridades públicas, levando informações qualificadas aos rincões do Paraná. Há 38 anos, nascia, assim, a revista Boletim Informativo (BI), produzida pelo Sistema FAEP/SENAR-PR. Hoje, a publicação, que chega à edição 1600, permanece com a missão de democratizar o acesso a informações e de colocar o homem do campo em posição de destaque.
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Idealizador da publicação, o jornalista Celso Nascimento lembra dos primórdios. O ano era 1985 e havia a necessidade de a FAEP comunicar suas reivindicações e ações e transmitir informações técnicas a sindicatos e produtores rurais. Em síntese, tratava-se de estabelecer uma conexão direta com o campo. Por dois anos, o Boletim Informativo foi produzido dessa forma mais simplória. Com o sucesso, o periódico se tornou uma revista, diagramada em computador e impressa em gráfica.
“No início, [o BI] era uma coisa rudimentar. Era datilografado e ‘xerocado’. Eram cerca de dez laudas [páginas], em que a gente abordava o que estava em discussão naquela semana. [O material] ia para os diretores dos cerca de 150 sindicatos rurais, para deputados e secretários de governo”, relembra Nascimento. “A imprensa, na época, era muito urbana. Não se aprofundava em questões rurais, nem tinha acesso a sindicatos e a agricultores do interior. Então, [o BI] foi considerado um veículo muito útil”, aponta.
De lá para cá, o Boletim Informativo deixou de ser uma produção artesanal, para se tornar uma das publicações especializadas no setor agropecuário mais relevantes do Brasil. A cada edição, atualmente, são impressos 26 mil exemplares, distribuídos gratuitamente a todas as regiões do Paraná (trata-se da revista com maior tiragem do Estado) e até mesmo para outras unidades da federação. Desde sua criação, o BI passou por pelo menos dez reformulações em seu projeto gráfico, que modernizaram sua apresentação e trouxeram novos elementos para deixar as reportagens mais atraentes aos leitores. Nem mesmo a pandemia do novo coronavírus foi capaz de interromper a produção da revista, que circula há 38 anos de forma ininterrupta.
Hoje, a produção da revista envolve uma equipe de dez pessoas, entre jornalistas, diagramadores e fotógrafos. As matérias são planejadas, apuradas e redigidas por cinco jornalistas. Posteriormente, o material é diagramado nas páginas por três designers. A equipe conta com o suporte de uma técnica-administrativa, que presta apoio diverso em todas as etapas do processo. Por fim, uma profissional de mídias sociais ajuda a disseminar o conteúdo produzido nos canais digitais do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Esse time leva conteúdos especializados aos produtores rurais, como levantamentos e estudos realizados pelo Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, informações sobre cursos e ações do Departamento Técnico (Detec), orientações do Departamento Jurídico (Dejur) e informações relevantes abordadas nas
Comissões Técnicas da FAEP, entre outros temas afinados às principais cadeias produtivas do Estado. Tudo isso, voltando os holofotes aos homens e mulheres do campo. Ao longo desses 38 anos, milhares de produtores tiveram suas histórias e anseios compartilhados nas páginas da revista. Afinal, são eles que fazem o setor agropecuário girar.
“O Boletim Informativo foi o primeiro canal de comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR com o produtor rural, para levar informações e conhecimento. Mais do que isso, a revista se tornou um espaço em que o produtor passou a ser valorizado e pôde ter sua história contada, inspirando outras pessoas”, define o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette. “Hoje, nossa revista é referência, não só para o produtor paranaense, mas para o setor como um todo, inclusive em outros Estados”, acrescenta.
Para celebrar o marco das 1600 edições, o Boletim Informativo reconta a história de três produtores rurais que, em anos anteriores, já foram retratados nas páginas da revista.
Planejamento e realização
O produtor Lidiomar Picinin mantém bem guardados os exemplares da revista Boletim Informativo de outubro de 2008, em que aparece em destaque. A publicação retrata um momento de inflexão em seu modelo de negócio, quando Picinin decidiu deixar de lado a fruticultura e investir em uma pequena agroindústria voltada à produção de açúcar mascavo e melado. O projeto para o empreendimento havia sido desenvolvido ao longo do Programa Empreendedor Rural (PER), do SENAR-PR, que lhe apontou os caminhos. A ideia e o levantamento eram tão bons, que Picinin havia sido premiado pelo projeto.
“Eram 215 projetos. Para a final, 35 foram selecionados. No dia do evento, foi um suspense e eu estava nervoso! Ficamos em segundo lugar. Foi uma alegria sem tamanho”, relembra Picinin, folheando as revistas de seu acervo. “Nosso projeto tinha 83 páginas. Os estudos apontaram que o negócio era viável. Tudo o que planejamos ao longo do programa foi implantado”, acrescenta. O produtor ainda guarda com orgulho o troféu conquistado no PER.
Nascia, assim, a Z&L Produtos. Mas não foi tão simples tirar o projeto do papel. Após conseguir financiamento, Picinin comprou equipamentos, como caldeira, tanques de resfriamento e tachos de processamento, além de prensa para embalar o produto. No primeiro ano, Picinin enfrentou inúmeros percalços, próprios de quem está começando em uma atividade. Logo, no entanto, o negócio decolou.
A empresa agora tem produção média de 5 mil quilos por semana – dos quais 90% correspondem a açúcar mascavo e 10% a melado. Os produtos já têm destino certo: duas distribuidoras de Santa Catarina e uma do Paraná. Além disso, o açúcar de Picinin já foi comercializado a clientes de 12 países, como Japão, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos.
“Quando começamos, nossa capacidade era de 250 quilos por dia. Hoje, temos máquinas maiores e mais modernas, que conseguem extrair mais produto da cana”, diz Picinin.
Além disso, a produção é sustentável. O bagaço da cana moída alimenta as caldeiras. A água utilizada no empreendimento provém de cisternas e poços artesianos.
“Hoje, além de termos um negócio sustentável, ainda geramos emprego e renda, e com isso ajudamos a sociedade”, aponta o produtor. “Sem o PER, jamais teríamos feito. Seria só uma ideia. O PER ajudou a tornar realidade. E que legal que a revista [Boletim Informativo] registrou o nosso começo”, concluiu.
Dos girassóis ao aprendizado para a vida
Tudo começou pensando em uma alternativa de renda. Ao participar do Programa Empreendedor Rural (PER), em 2004, Josiane Rufino Brumatti vislumbrou que o cultivo de girassóis poderia ser uma opção, conciliando esta atividade com a produção de soja, na propriedade da família, em Paraíso do Norte, no Noroeste do Paraná. Ao longo das aulas, o projeto apontava baixo custo de produção e boa rentabilidade. Assim, ela e o marido, Reginaldo Luiz Brumatti, decidiram fazer uma experiência com as flores. Os planos da família foram destaque no Boletim Informativo, em dezembro de 2004.
Dos 36 hectares da propriedade, os Brumatti destinaram 2,5 hectares ao cultivo de girassóis. Já em 2005, ao fim do ciclo de seis meses, a produção superou as expectativas da família. Apesar disso, os produtores encontraram dificuldades logísticas para comercializar a produção. Mesmo com o lucro, eles decidiram interromper o cultivo.
“O investimento foi baixo. Nós já tínhamos o maquinário utilizado na produção de soja, que pôde ser usado nos girassóis. A produção estava boa, os custos baixos e o valor da venda dos girassóis em alta”, relembra Josiane. “Nós paramos por essa dificuldade de fazer a entrega [da produção]”, acrescenta.
A alta do custo de produção de grãos registrada nos últimos anos fez com que os Brumatti voltassem a olhar para a produção de girassóis. Segundo Josiane, a família planeja retomar o cultivo das flores, intercalando com a soja. Um ponto positivo nessa equação é que, agora, a produção teria destino certo: a cooperativa Cocamar tem demanda por girassóis, destinados à produção de óleo.
“Os altos custos de produção do milho e da soja, além do clima, que tem provocado muitas perdas, fazem a gente planejar voltar ao girassol. Nesse planejamento, o girassol entraria com o cultivo na janela da soja”, detalha Josiane.
Mudança pelo conhecimento
Em 2010, o casal Valdecir Rogério Schwertz e Ivanete Hoesel posaram para foto, em frente à casa em que moravam, na área rural de Querência do Norte, Noroeste do Paraná. Publicada em maio daquele ano no Boletim Informativo, a matéria abordava os avanços que a família tinha conquistado na bovinocultura de leite, com apoio do SENAR-PR. De lá para cá, o negócio evoluiu ainda mais. Apostando em um sistema de alimentação do rebanho exclusivamente a pasto – mantido com irrigação e piqueteamento –, Schwertz e Ivanete vêm obtendo excelentes resultados, com lucratividade mesmo em momentos de crise do setor leiteiro.
Com o negócio engrenado, em 2013, Schwertz investiu em irrigação. Vistoso, o pasto da propriedade chama a atenção de quem passa. “A gente produz leite só no pasto. Não dou um quilo de silagem para as vacas. É pasto e um complemento de ração na hora da ordenha”, conta. “Não tem sistema mais fácil de se trabalhar. Eu não tenho trator, não precisa tratar das vacas. Meu implemento de campo é só irrigação”, detalha.
Hoje, o casal mantém 110 animais, sendo 82 em lactação, com produção média de 21 litros/animal/dia. Além disso, os pecuaristas também têm 190 novilhas no rebanho. A propriedade conta com sala de ordenha e equipamentos para manter armazenado o leite até a entrega. Como o sistema de produção a pasto tem baixo custo de produção, Schwertz e Ivanete mal sentiram a recente crise que afeta bovinocultores do país.
“Não adianta o produtor ter uma produção altíssima, se o custo de produção também está nas alturas. Eu costumo brincar que se todo mundo quebrar, eu ainda vou estar na atividade, porque meu sistema é diferenciado. Mesmo nas piores épocas, o que eu ganho cobre os custos de produção e ainda sobra, pelo menos, a metade”, diz o produtor.
A qualidade de vida também melhorou. Na foto do BI publicada em 2010, o casal aparece em frente a uma casa mista de madeira e alvenaria. Hoje, a família mora em uma residência confortável de 140 m². “A nossa história passa pelo SENAR-PR. É uma baita fonte de conhecimento à disposição do produtor”, destaca.
Por Felippe Aníbal
Comunicação independente e com paixão
Carlos Augusto Albuquerque
Superintendente
Sistema FAEP/SENAR-PR
Começando com duas páginas mimeografadas há mais de três décadas e hoje atingindo uma tiragem de 26 mil exemplares e ampla divulgação por e-mail e listas de transmissão do WhatsApp, o Boletim Informativo do Sistema FAEP/SENAR-PR tem desempenhado um importante papel na defesa dos interesses dos agricultores e pecuaristas do Paraná e na divulgação dos cursos de capacitação do SENAR-PR, voltados aos produtores e trabalhadores rurais. De um simples informativo destinado à imprensa e a sindicatos rurais no final do século passado, a revista se firmou como um instrumento do sindicalismo rural, abordando com conhecimento, e até com paixão, temas da agropecuária, sempre com independência.
Trata-se de uma façanha para uma publicação sem anúncio e de uma instituição privada, cujo objetivo sempre esteve retratado nas matérias estampadas em suas páginas. Por esta razão, a revista Boletim Informativo do Sistema FAEP/SENAR-PR manteve o respeito de seus milhares de leitores, produtores rurais, autoridades, parlamentares, órgãos de imprensa, servindo de base para sustentar, com coragem, as demandas do campo.
Vida longa ao Boletim Informativo!
Boletim Informativo como tema de trabalhos acadêmicos
Ao longo das quase quatro décadas, a revista do Sistema FAEP/SENAR-PR já contribuiu também com diferentes situações fora da porteira, como, por exemplo, parte de processos jurídicos e também de documentos oficiais em defesa dos interesses dos produtores rurais. Em 2018, a então governadora Cida Borghetti encaminhou ofício ao Ministério da Agricultura e Pecuária manifestando o compromisso do Paraná de implementar as ações necessárias para que o Estado recebesse a certificação internacional de área livre de febre aftosa sem vacinação. Matérias da revista Boletim Informativo sobre os ganhos de mercado com a certificação foram anexadas ao ofício.
No meio acadêmico, o periódico do Sistema FAEP/SENAR-PR também já foi tema de trabalhos. Em 2017, o designer Fernando Santos, que há 14 anos integra o Departamento de Comunicação da entidade, fez o seu trabalho de conclusão de curso na Universidade Tuiuti do Paraná com uma proposta para repaginar a revista. Diversos pontos propostos no trabalho, como valorização das fotos, versatilidade de diagramação e separação de temas por cor, foram adotados.
Em 2021, a revista Boletim Informativo fez parte da dissertação de mestrado, também na Tuiuti, do jornalista Carlos Guimarães, que desde 2016 trabalha no Departamento de Comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR. Sob o título “A aplicação da Comunicação para visibilidade de ações organizacionais: uma análise da articulação entre plataformas analógicas e digitais para aumentar o alcance do público de interesse (o caso FAEP)”, o trabalho analisou as táticas de Comunicação da FAEP junto aos produtores rurais do Estado do Paraná, diretamente associadas a disponibilizar informações e conteúdos nas multiplataformas, ou seja, sem privilegiar apenas um meio de comunicação.
Um capítulo inteiro foi dedicado ao periódico, mostrando que parte dos produtores rurais tem apreço pelos veículos de comunicação impressos, em função da capacidade de concentrar conteúdos e ordená-los por importância, pois permitem a hierarquização de informação, e a remodelação na forma de distribuir o conteúdo escrito.
Com Faep