Foto: Reprodução/Assessoria
AGRICULTURA

Preços dos grãos: futuro das cotações depende do clima, analisa especialista

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Tatiane Bertolino
Tatiane Bertolino

A demanda por commodities como soja, milho e trigo seguem em oscilação, com maior tendência para queda dos preços, conforme acompanhamos diariamente aqui no Portal Sou Agro. E a perspectiva não é das melhores, a não ser que o clima, influenciado pelo El Ñino, prejudique a oferta.

Temos uma superprodução no Paraná e também no país de grãos. A última estimativa da safra, divulgada nesta quinta-feira (28) pelo Departamento de Economia Rural apresentou redução do trigo, mas ainda mantém a perspectiva de volume recorde, com 46,3 milhões de toneladas.

Pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada) mostra que a demanda de trigo por parte dos moinhos segue desaquecida. Já a venda dos derivados também não mostra reação.  Muitos agentes estão aguardando a entrada de um maior volume da safra nova para adquirir novos lotes. Diante disso, os preços continuam em queda.

Os dados mostram que, no Rio Grande do Sul, a média de setembro foi de R$ 1.150,70/tonelada, quedas de 10,3% frente à de agosto/23 e de expressivos 34,1% em relação à de setembro/22. Trata-se, também, da menor média mensal desde dezembro de 2019, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI). As médias mensais do Paraná e de São Paulo, por sua vez, são as menores desde outubro de 2017, em termos reais. No campo, a colheita de trigo foi iniciada Rio Grande do Sul, estado que, vale lembrar, colheu a maior parte da produção nacional em 2022. No Paraná, segundo maior estado produtor do País, a colheita deve ser menor que o estimado inicialmente, devido à alta incidência de doenças em lavouras do estado, o que, por sua vez, se deve às temperaturas mais elevadas no inverno.

Quanto à soja e o milho, a estimativa é que a produção somada da primeira e segunda safras 2022/23 supere os 17,9 milhões de toneladas, colocando-se entre as maiores do Estado.

“Há uma reposição geral da produção, especialmente milho, trigo e soja. Se a gente analisar, nos últimos três anos houve uma redução de estoque, que neste ano passou aumentar. Tanto estoque local quanto o americano. Do outro lado, a economia mundial está com dificuldades, principalmente em lidar com a inflação. O crescimento  econômico pós-pandemia não vem. E, com isso, a demanda por produtos agrícolas acaba ficando mais contida”, analisa Camilo Motter, economista.

Com a superprodução, os produtos acabam acumulando e com isso o preço cai. “O que vemos é boa oferta, grande disponibilidade de produtos e preços pressionados. Mas não vejo demanda acirrada no futuro. O que pode alterar a questão do preço é o clima”, afirma.

O Brasil está sob a influência do El Ñino e isso pode trazer chuvas acima da média. “O fenômeno pode trazer impactos diretos à safra. O clima é o único fator que o produtor rural não consegue controlar e que pode influenciar para o aumento dos preços”, comenta Motter.

El Ñino

Nas últimas semanas, o Brasil tem sido palco de eventos climáticos extremos que têm impactado a previsão do tempo em diferentes regiões do país. Temperaturas recordes acima de 40ºC, temporais e inundações no Sul, e uma seca severa no Norte estão entre os desafios enfrentados pelos brasileiros. Esses fenômenos, aparentemente desconexos, podem ser explicados pelo El Niño, um fenômeno climático que afeta todo o continente sul-americano.

O El Niño é um fenômeno climático que ocorre quando as águas do Oceano Pacífico, próximas à Linha do Equador, aquecem acima do normal por pelo menos seis meses. Esse aquecimento altera significativamente a formação de chuvas, a circulação dos ventos e as temperaturas em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é uma das principais fontes de informações sobre o impacto do El Niño em nosso país.

Um dos efeitos mais evidentes do El Niño é o aumento das chuvas no Sul do Brasil. Isso ocorre devido a uma mudança na circulação de ventos que impede o avanço de frentes frias pelo território nacional. Como resultado, as frentes frias ficam estacionadas na Região Sul, causando chuvas intensas e frequentes.

Com Agências e Cepea

(Tatiane Bertolino/Sou Agro)