Foto: Sistema Faep

Agrohackathon leva soluções diversificadas ao setor agropecuário

Débora Damasceno
Débora Damasceno
Foto: Sistema Faep

Observar o mercado e identificar oportunidades são comportamentos capazes de gerar valor para um negócio, produto ou serviço e, simultaneamente, trazer benefícios para as pessoas. A solução dos problemas, muitas vezes, pode ser algo simples e barato para implementar. O diferencial está na habilidade do profissional em saber usar a estratégia, a simplicidade e a criatividade a seu favor, transformando ideias em resultados. É nesse contexto que o Agrohackathon, maratona tecnológica voltada para o setor agropecuário, há anos, incentiva o desenvolvimento de soluções para otimizar o trabalho dos produtores rurais, dentro e fora da porteira.

Em 2023, a iniciativa chegou à quarta edição com o tema “monitoramento da propriedade rural” e, em um formato inédito, mobilizou mais de 250 participantes em quatro cidades: Curitiba, Pato Branco (Sudoeste), Assis Chateaubriand (Oeste) e Ibiporã (Norte).

 

O resultado deste intenso trabalho ocorreu no dia 22 de setembro, na sede do Sistema FAEP/SENAR-PR, em Curitiba quando foram revelados os projetos vencedores: Amigo Produtor, de Curitiba; Cow Black, de Pato Branco; MRAP, de Ibiporã; e Sapato Molhado, de Assis Chateaubriand.

Desde a criação da maratona, em 2018, o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette, vem destacando a importância da formação de profissionais envolvidos com a área de tecnologia para a continuidade do desenvolvimento do setor agropecuário do Paraná, priorizando a sustentabilidade econômica, ambiental e social. Segundo Meneguette, o investimento em inovação tem sido o caminho percorrido pelo meio rural nas últimas décadas, com provado pelos consecutivos recordes de produção e produtividade.

“O futuro da agropecuária está cada vez mais dentro da automação e vamos precisar ter técnicos para isso. Os participantes do Agrohackathon precisam seguir em frente, pois é um mundo novo para descobrir”, afirma. “Os projetos desenvolvidos no Agrohackathon têm o potencial de contribuir efetivamente no dia a dia do produtor”, complementa.

Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR

Na avaliação de Gilson Martins, professor do Centro de Economia Aplicada, Cooperação e Inovação (CEA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e idealizador da maratona tecnológica, o segredo do sucesso do Agrohackathon está pautado no entusiasmo dos participantes, que possibilita a transformação dos envolvidos nos projetos.

“Dificilmente a gente vê, na vida como docente, uma situação em que as pessoas brigam para participar de algo. Não porque está havendo uma grande soma de dinheiro, mas porque querem fazer parte desse movimento. Ouvimos relatos das equipes que o Agrohackathon transformou a forma de pensarem. É isso que estamos buscando”, constata Martins.

Gilson Martins, professor do CEA da UFPR

Nos próximos meses, as quatro equipes vencedoras vão contar com suporte para a continuidade dos projetos. A organização planeja realizar o processo de pré-incubação por um período de seis meses, com mentores para auxiliar no desenvolvimento e evolução dos projetos. Esse processo vai aumentar a possibilidade de os projetos vencedores se tornarem empresas e disponibilizarem soluções ao meio rural. “A ideia é dar continuidade. Os próximos passos são oferecer uma mentoria às equipes, para que essas ideias vencedoras ganhem corpo e possam ir para o mercado”, adianta Nayara Ribaski, professora do CEA da UFPR.

Nayara Ribaski, professora do CEA da UFPR

Da sustentabilidade e otimização de recursos…

Apesar de diferentes áreas de atuação, os projetos vencedores do Agrohackathon se assemelham por combinar estratégias para simplificar a vida dos produtores rurais, facilitando o acesso a serviços e resolvendo problemas coletivos.

A equipe Amigo Produtor, de Curitiba, apostou no segmento de serviços ambientais, que, no meio rural, contribuem para a propriedade estar em equilíbrio com a natureza, sem deixar de lado sua viabilidade econômica.

Em 2021, a Lei 14.119 instituiu a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Com o projeto “Cultivando prosperidade, colhendo sustentabilidade”, a equipe desenvolveu um serviço de consultoria focada nesta ferramenta, que concede incentivo financeiro para remunerar proprietários de imóveis rurais ou urbanos que possuam áreas naturais capazes de fornecer serviços ambientais e que geram benefícios para a sociedade.

Segundo Jerrard Joly Gbur dos Santos, um dos integrantes da equipe, a ideia é atuar nas duas pontas, ligando pessoas que prestam o serviço ambiental, como produtores rurais que possuam áreas de vegetação nativa, aos compradores interessados em se beneficiar da iniciativa, por exemplo, empresas que queiram mitigar os impactos ambientais de suas ações cotidianas. “O produtor pode ser remunerado por uma área que até então não tinha nenhum tipo de rentabilidade financeira. O nosso projeto faz essa ponte e facilita a oferta desses serviços”, explica.

Equipe Amigo Produtor, de Curitiba, venceu com projeto voltado para sustentabilidade ambiental

O projeto provê informações para identificar oportunidades de monetização e venda de serviços ambientais, auxiliando na manutenção dos ecossistemas e seus recursos naturais por meio de atividades de proteção e de uso sustentável.

Nessa busca constante de trazer mais praticidade e otimização de tempo para o produtor rural, o projeto “Arquivagro – Seus dados rurais na palma da mão” ganhou a competição na regional de Assis Chateaubriand. Sua proposta é unificar, por meio de um aplicativo, o armazenamento de documentos e informações da propriedade rural, incluindo dados de produtividade, matrículas e notas fiscais.

“Nós identificamos essa dor do produtor, que em uma situação de financiamento ou regularização da propriedade, precisa ir em mais de um lugar para conseguir os documentos necessários. Então, a ideia é trazer um sistema de fácil acesso, com todos os documentos atualizados e organizados, otimizando o tempo para a tomada de decisões”, afirma Ana Paula Ferro Campinas, da equipe Sapato Molhado.

No aplicativo proposto, toda a documentação estaria disponível em um mesmo local, trazendo acessibilidade, amparando o produtor rural na condução da propriedade e, ainda, contribuindo para a redução do uso de papel no dia a dia. “Essa experiência nos mostrou que soluções simples podem mudar a vida de alguém”, conclui Ana Paula.

…à eficiência produtiva e soluções para além da porteira

A equipe Cow Black, de Pato Branco, desenvolveu um projeto voltado para a pecuária de leite, com o objetivo de levar uma solução tecnológica de baixo custo para essa cadeia produtiva. Com a premissa de que “Cada gota conta”, esse projeto de monitoramento de leite bovino propõe um equipamento que identifica individualmente alterações na qualidade do leite durante a ordenha, por meio da análise do PH do produto, e faz a separação automática em caso de contaminação.

“Utilizando um equipamento com baixo custo de aquisição, conseguimos atender o produtor de leite em um ponto importante, que é a mitigação de prejuízos que ele teria, eventualmente, com o desperdício na produção e que, muitas vezes, pode até levá-lo à falência”, aponta Samuel Moraes, da equipe Cow Black.

Equipe Cow Black, de Pato Branco, foi uma das premiadas com projeto de monitoramento de leite bovino

O equipamento, acoplado nas teteiras, é capaz de fornecer dados fundamentais para uma boa gestão na propriedade leiteira, como análise individual do leite por ordenha. O projeto também prevê a adaptação de novos sensores para monitoramento de outros parâmetros da atividade leiteira e da qualidade do leite, além da criação de uma plataforma para relatórios.

Para além do trabalho dentro da porteira, o projeto vencedor de Ibiporã mostrou que é possível, com uma única solução, atender a diferentes demandas sobre o mesmo problema. A equipe MRAP desenvolveu um medidor portátil de resíduos de defensivos agrícolas, que, por meio de Inteligência Artificial (IA), mostra a quantidade de resíduos agroquímicos presentes no alimento. Com o título “Semeando eficiência na mão do produtor”, o projeto pretende colocar no mercado um equipamento com custo acessível e de fácil uso para um público amplo.

Segundo o integrante Elias Junio Muller Coelho, o medidor poderia ser utilizado tanto por produtores rurais que desejam realizar um controle mais rigoroso das aplicações de agroquímicos na sua produção, quanto pelo consumidor final que deseja ter informações mais precisas sobre os alimentos que consome.

“Nosso equipamento pode ser utilizado em diversos setores, como em Ceasas, em supermercados e por consumidores finais, para verificar se o alimento está apropriado para o consumo. E, também pelo produtor para monitorar a quantidade de defensivos antes do alimento sair da propriedade e, assim, não perder com o descarte lá na frente”, elenca o participante da equipe MRAP.

Uma possibilidade citada pela equipe é o estabelecimento de parcerias com certificadoras de orgânicos, que utilizariam o equipamento para auxiliar na inspeção da produção. Já para os consumidores, seria mais uma garantia da qualidade orgânica do produto, gerando mais confiabilidade para a certificação.

Etapas regionais

Os projetos inscritos no Agrohackathon foram desenvolvidos durante as etapas regionais, realizadas nos dias 2 e 3 de setembro, nos quatro polos onde aconteceu a maratona tecnológica. Com participação de 35 equipes multidisciplinares (oito em Ibiporã, oito em Assis Chateaubriand, nove em Pato Branco e dez em Curitiba), a maratona tecnológica envolveu 186 competidores, entre estudantes de graduação e pós-graduação, alunos de colégios agrícolas e profissionais do mercado.

Após as etapas regionais, oito projetos – dois de cada localidade – foram selecionados para a final. As equipes classificadas passaram por um processo de mentoria, no qual puderam desenvolver e aprimorar seus projetos iniciais ao longo de três semanas. Na etapa final, cada equipe apresentou seu projeto a uma banca formada por oito especialistas, representantes de diversas entidades, que escolheram o vencedor de cada localidade.

Parcerias

O Agrohackathon é uma iniciativa do Centro de Economia Aplicada, Cooperação e Inovação (CEA) da UFPR, realizado de forma conjunta pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, Agrociência Cooperativa e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A maratona tecnológica conta com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Central Sicredi PR/SP/RJ, seguradora BB Seguros, Banco do Brasil, Box Group Cibersegurança, Softfocus e a Agência de Cooperação Alemã (GIZ), por meio do Programa Euroclima +.

(Com Bruna Fioroni – Sistema Faep)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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