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Tilapicultura: 40% dos produtores tem a atividade como diversificação de renda

Redação Sou Agro
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Uma das atividades que vem colocando a região Oeste do Paraná em destaque nacional e internacional nas últimas décadas é a tilapicultura. A produção começou a emergir como atividade econômica na década de 1980 e de lá para cá teve um salto significativo sob diversos aspectos. E foi esse crescimento que levou o professor do curso de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar na Unila (Universidade Federal da Integração Latino Americana), Dirceu Basso, a desenvolver um estudo, que consiste em um verdadeiro raio-x da atividade. O trabalho teve início há dois anos, e ainda está em curso, mas alguns resultados já foram encontrados. “Esse trabalho é resultado de um grupo de pesquisa de professores da Unila, Unioeste, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e também do diálogo com pesquisadores da França. O tema geral é a discussão sobre sistemas agroalimentares, e optamos por fazer um recorte e entender mais sobre a piscicultura, com foco na produção de tilápias. A pergunta que nos orientou o trabalho inicialmente foi analisar a participação das associações de produtores e cooperativas na cadeia produtiva do Oeste do Paraná” explica o pesquisador. 

Quatro redes de produção 

Ao longo do trabalho quatro redes de tilapicultura foram identificadas: rede de proximidade; rede de lazer e gastronomia; rede de beneficiamento de pequeno e médio porte; rede de commodities. O estudo indicou cerca de 2,3 mil produtores do peixe, e a maior parte deles se concentra na rede de proximidade. “Mais de mil famílias fazem parte da rede de tilapicultura de proximidade, ou seja mais de 40% do total. São produtores que cultivam para consumo próprio, vendem para o vizinho, a comunidade quando quer comprar vai até a casa dele, ou seja sem compromisso prévio e as vendas ocorrem a partir de relações de confiança, não há contrato formal.  Esse produtor não tem parceria com empresas, ele tem a atividade como meio de diversificar e complementar a renda familiar. O uso de tecnologia é considerado baixo, alguma até média, mas o investimento não é significativo”, relata Dirceu Basso.

Na sequência da classificação aparece a rede de lazer e gastronomia, que na região concentra cerca de 30 a 40 famílias. A rede é formada por piscicultores que têm pesque-leva, pesque-solta (que prioriza o lazer e a prática esportiva) e ainda os restaurantes que ficam nesses locais e que oferecem uma gastronomia especializada com foco nos pescados. Nesses casos todo o processo de processamento ocorre na propriedade. A necessidade de investimento e inovação fez com que muitas famílias deixassem a atividade nos últimos anos” lamenta o pesquisador. 

A terceira rede é a beneficiamento de pequeno e médio porte, aproximadamente 500 produtores encontram-se inseridos neste grupo. Esta rede começou a tomar forma a partir dos anos 2.000, quando conjuntos de famílias passaram a construir agroindústrias e comprar a produção de tilapicultores do entorno a fim de processar, embalar e comercializar o produto, inicialmente para o mercado regional, mas logo alcançando outros Estados. O pesquisador destaca que neste formato a compra da produção se dá por meio de relação de confiança, não há um contrato entre o produtor e o entreposto, é uma parceria informal e que dá muito certo. Outra característica desse sistema é que as agroindústrias têm sistema de inspeção municipal, que é mais em conta. A tecnologia empregada é considerada média/alta e grande parte dos produtores depende de financiamento para custeio e investimento na atividade”. 

COMMODITIES

Por fim chegamos a rede de tilapicultura de commodities, onde estão concentrados cerca de 550 produtores. Essa nomenclatura está relacionada ao fato de os piscicultores estarem vinculados a cooperativas e empresas de grande porte e por isso tem produção em escala maior e com relação comercial formal. “Nesta rede há uma formalização da atividade por meio de um contrato de integração celebrado entre cooperativa e produtor (semelhante ao que ocorre com outras cadeias como suinocultura e avicultura). Ao produtor cabe os investimentos na sua unidade de criação e as cooperativas fornecem os insumos e os serviços técnicos. Nesta rede o sistema de inspeção é o Federal. No momento, as empresas agroindústrias operam com base num sistema de parceria híbrida, fornecendo alevinos e ração e atuando por ciclo produtivo, sem estabelecer garantias de longo prazo” observa o pesquisador. 

Com o estudo fica evidente que é a entrada dessas cooperativas no cenário regional que faz com que a produção deslanche para o nível que se encontra hoje. “O Oeste é um polo de referência em termos de Brasil na produção de tilápia. São mais de 40 anos de história, mas a chegada e o crescimento que alavanca de forma significativa a atividade e nos leva a alcançarmos mercados internacionais como os Estados Unidos. Porque as grandes cooperativas já têm todo um sistema de logística, tecnologia e conhecimento, já utilizados na produção de outras proteínas e foi adaptado para o mercado da tilápia” revela Dirceu Basso. 

Análise do cenário 

As redes identificadas, o pesquisador aponta fatores que contribuíram para o rápido desenvolvimento do segmento, se comparado a outras cadeias produtivas. “O que a gente observa é que a construção das quatro redes é resultado da coalizão de esforços de órgãos governamentais, universidades e empresas privadas, cooperativas e agricultores”, garante Basso. 

O professor aponta ainda que o estudo não tem objetivo de apontar a melhor rede, mas retratar a importância de cada uma, demonstrando as que já tiveram avanços tecnológicos e as que precisam de políticas públicas para suas características. “Todas dinamizam o desenvolvimento da região, produzem produtos para públicos diferentes e a criação de políticas públicas direcionadas pode fomentar a consolidação e ampliação de cada rede. Esperamos que nosso estudo leve o poder público a olhar com mais atenção para esse segmento e fomente a expansão da atividade. O ideal é que em 5 a 10 anos tenhamos 4 a 5 mil piscicultores compondo esses grupos”, finaliza o pesquisador. 

O estudo tem sequência com a análise mais aprofundada das redes e a forma como foram construídas, a fim de compreender a contribuição das associações e cooperativas dos agricultores e das grandes cooperativas nesta cadeia produtiva. 

Produção de Tilápia no Brasil 

Nos últimos anos a tilápia assumiu o posto de peixe mais cultivado na piscicultura brasileira. No ano passado, foram produzidas em todo o país 550.060 toneladas da espécie, volume que representa 63,93% da produção nacional de peixes de cultivo. E o destaque neste cenário é o Paraná, que produz mais de 34% de todo este volume, que acordo com dados do “Anuário 2023 Peixe BR da Piscicultura”. 

De acordo com a Associação Brasileira de Piscicultura, fatores que colaboram para esse destaque e preferência é que a tilápia possui proteína de alta qualidade, preço competitivo e preparo. A expectativa é que até 2030, a tilápia deve responder por 80% da produção nacional e nesse ritmo o Brasil assuma o posto de terceiro maior produtor mundial em três ou quatro anos.

Além da maior procura no mercado nacional, a tilápia responde por 88% das exportações brasileiras de pescado, atendendo sobretudo os Estados Unidos. O mercado norte-americano corresponde a 83% da tilápia que o Brasil exporta. E o segundo mercado mais significativo é Taiwan, que compra principalmente os produtos não comestíveis, como pele, escama, farinha e óleo.

(Redação Sou Agro/Sou Agro)

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