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AGRICULTURA

As sementes cozinham? Altas temperaturas podem comprometer lavouras 

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Redação Sou Agro
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O período de plantio da cultura teve início no último dia 10 e desde então, nas lavouras onde a safra de inverno já foi colhida, as sementes (que levam também a esperança do produtor de recuperar os prejuízos acumulados com a queda dos preços do trigo e milho) tem sido depositadas no solo. E se as atuais condições climáticas, já atípicas para o inverno, já atrapalham o plantio, consumindo a umidade necessária para a germinação, o calor intenso pode trazer consequências graves ao cultivo. De acordo com os institutos de meteorologia em diversas regiões as temperaturas máximas devem superar os 40ºC, o que pode trazer impactos severos.

O que acontece com a semente?

 “O calor excessivo nas sementes, acima de 42o C, mesmo que por poucos períodos, já é responsável por desnaturar/degradar as proteínas, ou seja, essa proteína que seria usada para o crescimento inicial da plântula não vai mais estar disponível, e mesmo que germine essa plântula originada dessa semente será uma plântula sem vigor, ou seja fraca. Além da proteína, o óleo, que a semente possui e que é utilizado para nutrir e plântulas nos primeiros dias, sofre um processo de peroxidação lipídica, resultando em radicais livres que irão prejudicar o desenvolvimento da plântula. Deve-se destacar que quaisquer fatores que afetam o desenvolvimento da plântula irão resultar em plantas menos produtivas” explica a pesquisadora do IDR-Paraná da área de Agrometeorologia e Ecofisiologia vegetal, Carolina Maria Gaspar de Oliveira.

 Impactos em todas as fases

A colheita da safra de inverno ainda está acontecendo em muitas regiões e por isso a fase das lavouras de soja também é variada. Há algumas em que as sementes já germinaram e “furaram” a terra, já outras em que o processo ainda não começou. A pesquisadora esclarece que o calor traz sofrimento à cultura em todas elas, de formas diferentes. “Cada fase é de uma forma. As sementes secas irão sofrer menos com o calor, se elas ainda não tiverem iniciado o processo de absorção de água, o efeito será menor, já que as secas resistem mais ao calor. Aquelas que já iniciaram o processo de germinação, podem acabar morrendo pela temperatura alta e nem terminar o processo, e as plântulas já formadas também. Nas plântulas a temperatura alta também provoca a desnaturação das proteínas, e consequentemente a morte celular”, detalha Carolina.

A especialista ressalta ainda que os impactos após onda de calor devem ser avaliados de forma individual e caso os prejuízos sejam de fato significativos, ainda é possível fazer nova semeadura caso esta seja perdida, apesar do custo que isso envolve, para garantir a aposta na safra de verão.

 Cobertura do solo

Um fator que pode amenizar esse impacto é a cobertura do solo. “A temperatura no solo nu é muito maior que no solo com palhada ou cobertura morta. Por exemplo, se no solo nu estiver marcando 38oC, no solo com cobertura morta estará marcando aproximadamente 26oC, assim essa palhada usada no plantio direto protege as sementes” alerta a pesquisadora do IDR-PR.

Já a profundidade, em que a semente é lançada, não deve ser alterada como medida para evitar os impactos. Uma vez que a semeadura profunda dificulta a emergência da planta, principalmente em solos arenosos, ou onde ocorre compactação superficial do solo. O ideal é manter entre 3 a 5 cm.

 Adiamento do plantio

Diante da previsão, os especialistas alertam para a possibilidade de adiar o plantio nesse período de altas temperaturas. “A recomendação é evitar o plantio nessas condições, na região oeste do Paraná, por exemplo, historicamente esta época é a pior época de semeadura da soja. A melhor época é em outubro. Este cenário que se desenha agora só reforça essa recomendação”, argumenta o Coordenador regional do Oeste do IDR-PR, Onóbio Werner.

(Redação Sou Agro/Sou Agro)