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AGRONEGÓCIO

Será que o calcário agrícola oferece riscos a quem manipula?

Será que o calcário agrícola oferece riscos a quem manipula?
Débora Damasceno
Débora Damasceno

Nas últimas semanas uma fatalidade gerou comoção e dúvidas no Paraná: a morte de uma criança que brincava com calcário agrícola na cidade de Ipiranga. Acontece que essa tragédia gerou muito questionamento sobre o calcário, será que ele oferece riscos durante o manuseio, afinal muita gente relata que está em meio ao produto há anos e nada aconteceu. Pois bem, de pronto, a resposta é não! Mas fomos saber de um especialista a explicação sobre isso diferenciando o calcário natural do calcário quimicamente alterado.

“O calcário agrícola basicamente é uma rocha calcária, um produto natural. Que está na natureza e ele é simplesmente moído e é uma ação física mesmo. Ele não passa por um processo de transformação química, então é simplesmente uma rocha calcária que foi finamente moída para aplicação no solo para correção de acidez de solo. Então, calcário ele não é um produto químico, ele é um produto mineral. Ele não tem componentes químicos. Ele não tem componentes que são nocivos à saúde”, explica Jairo Hanasiro, Engenheiro agrônomo e Consultor Abracal (Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola).

 

No caso da criança, Jairo explica que a situação de fato chama atenção e por ele estar brincando no calcário agrícola há uma confusão em diferenciar os riscos dos produtos.

“Eu entendo que possa ter havido alguma confusão com relação a produtos derivados de calcário. Existem outras substâncias que são produzidas a partir do calcário e aí sim, essas outras substâncias produzidas a partir do calcário que tem calcário na sua composição podem trazer algum dano à saúde. Mas no caso do acidente que ocorreu com essa criança, eu entendo que o que houve foi um sufocamento mesmo, quer dizer ele é em pó e a criança se sufocou, se afogou naquele monte de calcário. Então houve um sufocamento que ela se afogou, respirou aquele pó todo e se sufocou”, detalha.

DIFERENÇA DO CALCÁRIO NATURAL E O QUIMICAMENTE ALTERADO

Sobre a composição do calcário, há uma grande diferença entre o natural e o quimicamente alterado, por isso é importante entender essas alterações para saber como fazer o manuseio correto.

“O calcário é um carbonato de cálcio, um carbonato. Magnésio é uma rocha moída, uma rocha comum. Se a gente queima essa rocha que carbonato essa rocha com o calor ela vai se transformar e ela se transforma ela se concentra. Então ela vai se transformar numa cal virgem, que é o óxido de cálcio. Houve uma transformação química e aí a cal, a cal virgem principalmente ela é extremamente cáustica, ela é uma base forte e ela pode causar em contato com a pele uma certa queimadura, então ela pode causar alguns riscos. Se você respirar isso aí ele vai causar uma queimadura nas narinas nas vias respiratórias, ele causa danos mesmo. Então aí sim, e a cal está na construção civil. Então essa cal virgem, quando você hidrata ela com água, ela chamada de cal hidratada que também é utilizada na construção civil. E essa cal hidratada, ela também é uma base forte, então ela também causa em contato com a pele você vai perceber que vai formar um ressecamento, uma queimadura. Então esses são produtos que realmente são quimicamente mais fortes, que também são utilizados na agricultura. Muita gente usa ele para fazer correção de solo no lugar do calcário, porque você usa numa quantidade maior e ele é mais forte e mais solúvel. Então para os produtores que utilizam cal virgem ou cal hidratada para correção do solo, então esses produtos eles trazem algum risco. É preciso que ele seja utilizado com EPI, com óculos de proteção, com luva, com botina e tal e evitar o contato com a pele. Então são produtos também que são utilizados na agricultura e tem que ser manuseados com bastante cuidado”

COMPOSIÇÃO DO CALCÁRIO NATURAL

Mas afinal como é a composição do calcário natural, o que é apenas a rocha moída?

“A composição química, falando tecnicamente do calcário é carbonato de cálcio e carbonato de magnésio, então essa é a composição química do calcário. O carbonato ele é uma base química bem fraquinha falando quimicamente. E ele é um produto praticamente insolúvel em água. Por isso que quando a gente faz recomendação no campo para o produtor aplicar com antecedência, incorporar no solo é por causa disso que o calcário praticamente é insolúvel em água, ele tem uma baixíssima solubilidade. Então, como que o calcário se dissolve para fazer a correção do solo? Ele vai se dissolver na solução do solo quando ela está ácida, quando o solo fica ácido e ele está molhado e existe umidade, ele gera uma solução. Essa é essa solução ácida, muito parecido assim com vinagre, por exemplo, e que é vai diluir, vai dissolver o calcário. Então, o calcário, se você pegar um copo d’água, por exemplo, se pegar uma colherzinha de calcário, joga, você vai ver que ele vai no fundo, como se fosse uma areia. Ao invés de vir esse copo d’água, você pegar um copo de vinagre, por exemplo, que é um ácido bem fraco que a gente usa até para se alimentar, não faz mal e você jogar uma colherzinha de calcário num copo com vinagre, vai ver que ele começa a se dissolver ele começa a borbulhar. Então o calcário ele não é solúvel em água e ele não causa mal nenhum a saúde, tanto que ele é componente de ração animal. Então, a ração que a gente dá para a galinha poedeira que põe ovos, ela tem que ser suplementada com calcário, normalmente calcário, até para remédio mesmo. Então é um produto natural, não faz mal nenhum a saúde. E outra, é um produto que é registrado no Ministério da Agricultura, a empresa para comercializar de calcário ele tem que ser registrado no Ministério da Agricultura para ser registrado, o ministério é extremamente rigoroso em termos de controle de qualidade”, diz o especialista.

FATALIDADE ISOLADA

O caso do menino em Ipiranga é considerado por Jairo uma fatalidade isolada: “Foi uma fatalidade isolada. Se fosse um monte de terra, provavelmente aconteceria a mesma coisa porque a criança também já está lá no meio daquela terra e ia acontecer a mesma coisa. Então foi uma fatalidade, infelizmente. E o produto calcário natural não apresenta nenhum tipo de risco químico como esse, como se pensou que pudesse ter acontecido”, explica.

CUIDADOS NECESSÁRIOS
Mesmo assim, nos dois casos, tanto no calcário natural quanto no quimicamente modificado, é preciso tomar cuidados com uso de equipamentos de segurança.

“O calcário natural ele na realidade ele necessita do EPI pela questão de ser poeira, de ser pó. Então, assim, qualquer poeira que você tiver no campo e tiver uma ventania grande e levantar aquela poeira de terra, ele vai causar, por exemplo, aquela poeira no olho, vai causar uma irritação ocular. Se você aspirar aquele pó, poeira, qualquer poeira que venha de terra mesmo, você vai ter uma irritação normal. Então, assim a gente recomenda como equipamento de segurança na aplicação por gerar essa poeira na aplicação. Então, usar sempre um óculos de proteção, coisa desse tipo. Mas assim são proteções normais. É mais uma questão de esclarecimento mesmo que eu acho que é necessário que aconteça e de que o calcário é um produto natural, não é um produto químico, é um produto mineral. É uma rocha calcária moída que se encontra em abundância na natureza. Não sofre nenhuma transformação química para ser utilizada no agronegócio. Então é um produto completamente seguro de manuseio. Agora, precauções de segurança devem ser tomadas em todas as situações. Então uso de botina importante que você usa para qualquer atividade e assim por diante, uso de máscaras, de óculos de proteção, todas atividades que hoje é importante utilizar”, finaliza Jairo.

COMO ESTÃO AS INVESTIGAÇÕES?

Em nota a Polícia Civil informou como estão às investigações da morte da criança.

“A PCPR está investigando o caso e realizando diligências para esclarecer o fato. A PCPR aguarda laudos periciais que auxiliarão nas investigações. Devido ao abalo emocional, oitivas serão realizadas essa semana. Infelizmente o delegado não tem disponibilidade para entrevistas no momento. Os laudos apontam que a causa da morte foi asfixia por soterramento. A PCPR ainda aguarda laudos complementares que auxiliarão no andamento das investigações”, disse a assessoria da Polícia Civil do Paraná.

(Débora Damasceno/Sou Agro)