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AGRICULTURA

Produtores sinalizam substituir milho por algodão

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Redação Sou Agro
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O maior gasto de uma lavoura de algodão é com produtos fitossanitários e, desde o ano passado até o presente momento, os custos com fungicidas, inseticidas e herbicidas diminuíram em cerca de 35% em Mato Grosso, maior produtor nacional da pluma. Com isso, o custo operacional total favoreceu os cotonicultores, e foi acompanhado de certa estabilidade nos preços de vendas da commodity nos últimos seis meses. Combinados, os dois fatores levam a uma rentabilidade melhor com a cultura.

Milho

Já o milho amarga forte queda em suas cotações, com preços despencando nos últimos meses em mais de 39%. Além disso, a margem líquida da safra 2023/24 para o cereal no Estado também reduziu, tornando-se pouco atrativa. Mesmo com os custos menores com fertilizantes, a rentabilidade do produtor de milho foi sendo comprimida. Os dados são da Agrinvest Commodities, que acompanha o cenário com projeções atualizadas semanalmente.

Em razão deste quadro, alguns produtores têm avaliado substituir o milho pelo algodão na segunda safra ou optar pela redução de tecnologias para aliviar os custos. Em Mato Grosso, é bastante esperado que grandes grupos produtores façam a substituição de uma cultura pela outra, no entanto, os especialistas sugerem ponderação de alguns aspectos antes da tomada de decisão.

Encontro Técnico Algodão/Milho

Especialistas se reúnem hoje(28) no XV Encontro Técnico Algodão, da Fundação MT, que será realizado em Cuiabá, para debater o assunto. Durante o evento, haverá um painel que irá abordar projeções para a cultura em Mato Grosso e como o Brasil está se desenvolvendo em outros mercados quando o assunto é o algodão.

Para o analista Jeferson Souza, da Agrinvest, são vários os fatores que precisam ser ponderados na decisão de substituir o milho segunda safra. “Os custos do algodão são praticamente três vezes maiores do que os custos operacionais do milho. Além do maquinário ser muito mais caro, é preciso analisar a capacidade das algodoeiras e a logística, pois tudo isso impacta diretamente na rentabilidade. Então, o risco e retorno do algodão é muito maior porque o investimento também é maior”, pontua o analista.

Lei da oferta e demanda

A demanda global da pluma e o quanto isso pode impactar na relação de troca do cotonicultor e vendas da safra futura é outro aspecto importante que será levado ao debate. “Olhando para a rentabilidade, hoje o algodão tem uma performance melhor que o milho safrinha, porém, os custos ainda são elevados e ainda é um mercado que está sob tensão. Com a previsão de aumento da produção no Brasil, é fundamental analisar o mercado consumidor. Se não houver uma resposta do lado do comprador para absorver essa maior oferta, existe a chance de queda nas cotações do algodão no ano que vem”, ressalta Souza.

A preocupação é validada pelo International Cotton Advisory Committee (ICAC), descrita no último Relatório de Safra da Abrapa, no início de agosto. O órgão projeta aumento de 530 mil toneladas na demanda global, estimada em 24,41 milhões de toneladas, alta de 2,2% em relação à safra vigente. Mas, apesar de positiva, a projeção demonstra enfraquecimento devido à inflação nos países desenvolvidos e ao baixo apetite de compras de seus consumidores.

Ainda conforme o relatório, em pesquisas de confiança do consumidor, as pessoas relatam que se sentem desconfortáveis com o futuro das economias e ainda percebem a pressão dos preços mais altos. Apesar da inflação ter diminuído significativamente, a população não tem constatado esse fato no dia a dia. A impressão, para elas, é de que os preços parecem ainda estar superando os salários, também, em países mais ricos.

“Então esse é o grande risco que nós temos, que será uma das discussões que teremos no encontro técnico. O aumento de área significa mais oferta no mercado, vamos ter que entender como o comprador vai se comportar, olhando exportação, demanda interna, todos esses movimentos. Se o produtor não fizer as fixações direito, antecipadas, gestão de risco boa, significa que ele pode ter um problema mais para a frente”, ressalta o analista.

 

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(Com Angela Ruiz, Central El Niño)

 

(Redação Sou Agro/Sou Agro)