Foto: Jonathan Campos/AEN
PISCICULTURA

Boas práticas de manejo nos tanques de peixes garante qualidade da água

Foto: Jonathan Campos/AEN
Emanuely
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Estudo, realizado em Itapira, SP, por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente em viveiros com e sem tilápias, com substratos feitos de argila expandida, bucha vegetal e cascalho, mostrou que a presença dos peixes alterou a população de macroinvertebrados bentônicos, reduzindo sua riqueza e diversidade e aumentando a dominância das espécies tolerantes ao convívio com os peixes.

Macroinvertebrados bentônicos são organismos visíveis a olho nu, basicamente insetos, crustáceos, moluscos e vermes, que habitam o substrato do fundo de rios e lagos, e são um elo importante da cadeia alimentar, como presas de outros invertebrados maiores, como crustáceos, e peixes.

Este grupo de organismos é bastante diverso e apresenta espécies adaptadas às diferentes condições ambientais, habita a interface sedimento-água, e deste modo, podem indicar condições adversas do sedimento, em razão do acúmulo de poluentes orgânicos e inorgânicos, que eventualmente podem ser liberados para a coluna d’água e afetar os peixes. Por isso, têm sido frequentemente usados em estudos de qualidade de água.

O estudo reforça a importância a adoção de Boas Práticas de Manejo (BPM) nos viveiros para que a qualidade da água seja mantida, não só para o bom desempenho dos peixes criados, como também para que o efluente do sistema de produção tenha o menor impacto possível sobre os corpos hídricos abaixo da propriedade.

Conforme a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Mariana Silveira Moura e Silva, as principais vantagens do seu uso são o grande número de espécies que podem ser sensíveis ao estresse ambiental, sua ampla distribuição em vários habitats de água doce e o comportamento relativamente sedentário e curto ciclo de vida em relação a peixes, facilitando a detecção de mudanças temporais.

Assim, esse tipo de monitoramento apresenta vantagem sobre as tradicionais análises físico-químicas da água, devido ao baixo custo dos equipamentos e aos resultados relativamente rápidos, contemplando não apenas a água, mas também o sedimento. Outro destaque importante é que a avaliação físico-química registra apenas uma situação momentânea, o que pode não ser apropriado no caso de despejo de efluentes domésticos ou industriais não tratados em rios.

No estudo, foram observadas 40 tipos (táxons) de organismos nos dois viveiros, sendo os mais abundantes a família de insetos considerados como tolerantes (Gênero Chironomus: Família Chironomidae), e as sanguessugas das famílias Glossiphonidae e Hirudinidae. A ocorrência de famílias sensíveis foi reduzida em tanques com peixes, o que pode estar associado a níveis elevados de turbidez da água.

A maior turbidez nos tanques com peixes pode estar relacionada à própria movimentação deles, ao acúmulo de ração não consumida e fezes na água, o que pode ter prejudicado famílias mais sensíveis. As demais variáveis físicas e químicas da qualidade da água estiveram dentro dos limites ideais para o cultivo de tilápia.

Como os viveiros não possuem substratos semelhantes aos corpos de água naturais, o uso do substrato artificial auxilia na padronização da área de amostragem, redução da variabilidade, tempo de processamento, custos operacionais e maior precisão dos dados, além de serem fáceis de fazer e manusear. Feitos com materiais de baixo custo, são menos dependentes das condições de cada tanque ou piscicultor, permitindo a comparação entre eles.

Os coletores com substrato artificial possuem ainda a vantagem de padronizar as amostras, ou seja, como o substrato é o mesmo para todos os coletores instalados, as diferenças serão atribuídas aos impactos observados e não a fatores relacionados ao tipo de substrato. Por outro lado, os substratos artificiais são seletivos, ou seja, apenas alguns grupos de macroinvertebrados conseguirão colonizá-los, já que os materiais empregados nos coletores são geralmente inorgânicos, como pedras de diferentes tamanhos, argila expandida e tijolos, por exemplo.

Outro dado importante é que número de indivíduos de insetos das famílias Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT) é uma métrica bastante conhecida e utilizada em programas de biomonitoramento para avaliar o nível de impactos nos cursos de água doce. A porcentagem deles em tanques sem peixes foi quase vinte vezes maior do que em tanques com peixes.

Isso pode ser explicado pela maior turbidez nos tanques onde os peixes estavam presentes, o que pode danificar as brânquias de alguns organismos deste grupo, além da diminuição da concentração de oxigênio dissolvido, já que os organismos pertencentes as EPTs são em geral mais exigentes quanto à oxigenação da água.

O estudo é resultado de projeto financiado pela Embrapa, com apoio da Associação Paulista de Piscicultores (ASPI) e pode ser acessado aqui.

Boas práticas

Monitorar, diariamente, temperatura da água, oxigênio dissolvido, pH (unidades de pH) e transparência com disco de Secchi.

Registrar, diariamente, a temperatura máxima e mínima do ar, em local próximo aos tanques-rede.

Secar os reservatórios, na medida do possível, entre os diferentes ciclos de cultivo e coletar amostras dos sedimentos do fundo para determinar a necessidade de calagem.

Utilizar linhagens com melhoramento genético, adaptadas às características climáticas da região.

Considerar que a duração do ciclo de produção é maior em regiões de clima mais frio, ao contrário de outras regiões onde a temperatura da água fica mais próxima da faixa de conforto dos peixes.

Observar o comportamento dos peixes e o consumo de ração nos dias com temperaturas da água abaixo de 20° C. Se houver sobras, reduzir ou até mesmo suspender a quantidade de ração oferecida.

Realizar, pelo menos a cada 15 dias, biometrias para ajustar a quantidade de ração que deve ser oferecida. A oferta diária de ração deve aumentar à medida que os peixes crescem.

Avaliar o desempenho zootécnico com base nos indicadores: ganho de peso total; ganho de peso/dia; biomassa final; conversão alimentar aparente e) taxa de sobrevivência.

Observar se há sintomas de estresse ou de doenças nos peixes, especialmente nos períodos de mudanças bruscas de temperatura e, caso possível, encaminhar peixes doentes a um laboratório especializado em diagnóstico de doenças.

Evitar trocar a água dos reservatórios após períodos de chuvas fortes para impedir a entrada de grande quantidade de sólidos em suspensão e aumento da turbidez, causados pelo acúmulo de sedimentos contidos nas fontes de água usadas para abastecimento dos reservatórios.

Anotar todos os gastos para determinar o custo de produção e, em especial, os gastos com a ração, item mais significativo.

Efetuar uma avaliação econômica considerando-se um ciclo completo de produção com peso final comercial, para confirmar qual a frequência alimentar que irá proporcionar maior rentabilidade.

(Com EMBRAPA)

(Emanuely/Sou Agro)