AGRONEGÓCIO
“Clube do Bilhão”: diversidade da produção agropecuária leva mais cidades a faturamento recorde
Todos os anos, o agronegócio paranaense aguarda a divulgação da lista de membros do chamado “clube do bilhão”, formado por municípios que ultrapassam a marca de R$ 1 bilhão em Valor Bruto de Produção Agropecuária (VBP). O grupo tem ganhado novos membros de forma acelerada. Até 2020, 14 cidades se enquadravam nessa categoria, número que saltou para 25 em 2021 e 34 em 2022. O VBP do VBP Paraná, em 2022, cresceu 6%, totalizando R$ 191,2 bilhões. Ao que tudo indica, nos próximos anos, essa explosão de novos integrantes na confraria deve seguir em vigor. Afinal, 22 cidades faturam anualmente acima de R$ 800 milhões com o agro.
A expansão de municípios com o título de VBP bilionário é, em boa parte, explicada pela diversificação das atividades agropecuárias no Paraná, o que colabora a enfrentar momentos de crise.
“Mesmo com a quebra de 43% na soja na safra 2021/22, o desempenho da pecuária manteve o ritmo e segurou o rombo causado pela seca. Nós trabalhamos justamente para que a economia agropecuária do Paraná seja cada vez mais dinâmica e robusta, permitindo enfrentar anos com intempéries”, afirma Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR
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A estratégia de ser competitivo em diversas culturas serviu de amortecedor para o agronegócio paranaense em 2022, como mostram os dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab). “A pecuária é como se fosse um colchão na nossa agropecuária, pois sempre temos uma produção, no mínimo, constante. A cadeia ganhou participação nos últimos anos e se sustenta. E teve maior participação no VBP de 2022, com 51% do total”, explica Larissa Nahirny Alves, economista do Deral.
Campeões do VBP
Não à toa, os dois maiores VBPs do Paraná são de locais com pecuárias fortes. Toledo (R$ 4,3 bi) tem o maior rebanho de suínos do país, sendo que, em 2022, a atividade de corte, sozinha, movimentou R$ 1,3 bilhão no município. A solidez dessa cadeia produtiva compensou a quebra de 30% da soja local na temporada 2021/22. “Duas coisas são destaque no município: a diversificação das atividades e a união dos produtores. Aqui, se alguém precisar da ajuda de um vizinho, de qualquer coisa, ocorre na hora”, relata o presidente do Sindicato Rural de Toledo, Nelson Gafuri.
O segundo colocado na lista, Castro, também carrega um título relacionado à pecuária: Capital Nacional do Leite. Eduardo Medeiros, presidente do sindicato rural do município, detalha que a atividade leiteira garante, de forma orgânica, um crescimento médio de 5% ao ano. “Essa integração entre as fazendas leiteiras, com a produção de grãos, além de outras cadeias produtivas, como suíno e frango, promove um círculo virtuoso no município. Sem contar que nossos produtores investem em qualificação e novas tecnologias, o que reflete diretamente no sucesso do município”, detalha Medeiros.
No geral, VBP registrou queda de 5%
Mesmo com a pecuária funcionando como um amortecedor, em termos gerais, o VBP do Paraná cresceu 6% nominalmente, totalizando R$ 191,2 bilhões. Porém, em valores
reais, com correção da inflação, o faturamento fechou em queda de 5%, principalmente por conta do fenômeno climático La Niña, que trouxe seca ao Estado em 2022. O aumento nas cotações (média de +21% entre as 55 principais culturas) compensou, em parte, as perdas, que, ainda assim, são estimadas em R$ 31,1 bilhões.
O cenário de preços em alta fica mais evidente analisando as exportações. Em 2022, o volume de negócio com o mercado internacional, em toneladas, caiu 14%, especialmente em virtude da quebra da safra de soja. Porém, o total, em dólares, subiu 11%, passando de US$ 15,2 bilhões em 2021 para US$ 16,8 bilhões em 2022. “Esse resultado é explicado em maior medida pela valorização internacional dos preços, haja vista que houve uma valorização do real frente ao dólar no período”, lembra Larissa Nahirny Alves, do Deral.
Recém-chegados
Entre os nove recém-chegados no clube do bilhão, General Carneiro (+38,1%), no Centro-Sul; Astorga (+20,1%), no Norte; e Pato Branco (+18,8%), no Sudoeste, tiveram maiores taxas de crescimento em 2022 na comparação com 2021. Apesar de cada localidade ter uma característica específica, todos investem sistematicamente em políticas públicas de diversificação, formando um mix que envolve atividades agrícolas e pecuárias.
General Carneiro, por exemplo, teve um crescimento vertiginoso, saindo de um VBP de R$ 392 milhões em 2020 para R$ 1,04 bilhão em 2022. Segundo o prefeito do município, Joel Ricardo Martins Ferreira, um dos fatores para esse salto exponencial envolve a indústria madeireira instalada no local, que está colhendo os frutos de investimentos feitos no passado. Além disso, houve a instalação de uma cooperativa agropecuária, fator decisivo para quadruplicar a área agrícola no município.
“Estamos sofrendo uma transformação, já que há pouco tempo éramos estritamente madeireiros e extrativistas. Hoje, continuamos com uma indústria madeireira forte, mas com reflorestamento. Nesse contexto, nas áreas mais planas, mecanizáveis, o pinus está perdendo espaço para a soja e o milho. Em alguns anos, teremos integração de grãos com madeira, algo interessante em termos econômicos”, resume Ferreira.
Em Astorga, o VBP alcançou R$ 1,17 bilhão tendo a avicultura como carro-chefe, que movimentou R$ 662,13 milhões, seguido pela soja (R$ 145,95 mi). A presença de diversas cooperativas de crédito, uma participação efetiva dos produtores junto ao sindicato e a busca constante por qualificações são alguns dos diferenciais competitivos do local. “Os cursos do SENAR-PR têm papel decisivo no fomento à profissionalização. O resultado do VBP é um reflexo direto da qualificação e da profissionalização do campo”, aponta Ademil Batista Dardengo, gerente administrativo do Sindicato Rural de Astorga.
Completando o pódio de maiores crescimentos dos novos sócios bilionários, Pato Branco elevou em 18,9% o faturamento de 2022 no comparativo com 2021. “Na região, a presença de universidades de referência em agronomia e veterinária, com apoio no desenvolvimento pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, pelo IDR-Paraná e por outras entidades, fortalece a agropecuária local. Nós temos uma meteorologia privilegiada, sem contar com o ecossistema de cooperação entre os elos da cadeia produtiva, focada em temas como sucessão familiar e avanços tecnológicos”, resume o presidente do Sindicato Rural de Pato Branco, Sinauri Bedin.
Rearranjo das locomotivas
Tradicionalmente, a agricultura é uma mola impulsionadora do Valor Bruto de Produção (VBP) no Paraná. Porém, na temporada 2012/22, a atividade sofreu uma queda de oito milhões de toneladas na produção de soja, levando a uma redução na sua participação no VBP total de 49%, em 2021, para 44%, no ano seguinte. A queda não teve impacto maior porque os preços das commodities registraram aumentos expressivos. Com 12,6 milhões de toneladas produzidas naquela safra, ainda assim a oleaginosa permaneceu como a principal cultura, respondendo por R$ 35,8 bilhões (ou 19%) do VBP.
Em termos financeiros, boa parte do desempenho se deve ao cenário internacional. A seca no Paraguai e na Argentina, dois dos maiores produtores de soja no mundo, mexeu com os mercados. Além disso, o conflito entre Rússia e Ucrânia manteve os ânimos acirrados e pressionou as cotações das comodities agrícolas. Somado a isso, no Brasil, questões internas, como as constantes tensões políticas e os rumos da política econômica, fizeram o dólar subir, o que também impactou nas cotações.
“Chamou atenção o fato de, mesmo com preços em patamares recordes, muitos produtores de soja do Paraná tiveram que entregar o que produziram em preços travados antecipadamente, para honrar contratos. Isso fez com que muitos agricultores não tenham conseguido aproveitar as melhores janelas de preços da safra 2021/22”, analisa Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Diferentemente da soja, algumas culturas tiveram aumento de produção e de preços, caso do leite, batata e milho. A pecuária, por sua vez, apresentou estabilidade na avicultura e suinocultura, além de crescimento na pecuária leiteira e bovinocultura de corte, contribuindo para o aumento da participação da pecuária no VBP. “O aumento de preço e volume de produção no leite e carne bovina, juntamente com preços relativamente estáveis em frango e suínos, explicam esse cenário”, analisa Ferreira.
Florestas aumentaram participação
A alta dos preços das comodities no mercado internacional afetou também o resultado da produção florestal paranaense. De acordo com Larissa Nahirny Alves, economista do Deral, há anos a participação do setor girava em torno dos 3%. Com a alta demanda por produtos derivados, o balanço da cadeia foi bastante favorável. “O setor teve crescimento real de 37% e somou R$ 9,4 bilhões de VBP, valor que corresponde a 5% do VBP total”, reforça Larissa.
O destaque absoluto da cadeia ficou para a receita oriunda das toras para papel e celulose, que dobrou de valor e totalizou R$ 1,8 bilhão. “Em 2022, os preços das toras para serraria e laminação tiveram variações entre 21% a 71%. Com o mercado aquecido, a extração dessas toras foi de 28,5 milhões de metros cúbicos e resultou em um VBP de R$ 5,5 bilhões, valor 40% superior ao obtido em 2021, já considerada a inflação do período”, detalha a economista do Deral.
Com Faep