Foto: Joseani Antunes
AGRICULTURA

Boas práticas de manejo do trigo podem reduzir impactos do clima

Foto: Joseani Antunes
Emanuely
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A previsão de volta do El Niño nos próximos meses exige a gestão de riscos na triticultura. Apesar da incerteza sobre a magnitude dos impactos que o fenômeno poderá causar na safra de inverno na Região Sul, as boas práticas de manejo na lavoura podem ajudar a reduzir perdas em um ambiente com maior umidade.

Para o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, o produtor e a assistência técnica aprenderam a “lidar melhor” com o El Niño. “Convivemos com o El Niño há 40 anos, desde que o fenômeno foi identificado pela comunidade científica, como o aquecimento das águas superficiais no Oceano Pacífico”.

Contudo, segundo Cunha, no contexto agrícola, os anos de El Niño ainda são vistos como tragédias anunciadas para a produção de trigo e de outros cereais de inverno no sul do Brasil, porém esse temor nem sempre se justifica: “A evolução da tecnologia de produção de trigo tem levado à mitigação das condições adversas, mais comuns em anos de El Niño, especialmente quando são adotadas a forma correta da tecnologia de produção e as estratégias de gestão de risco”.

Um levantamento da equipe de agrometeorologia da Embrapa Trigo avaliou os mapas de rendimento médio de trigo na Região Sul, base municipal do IBGE, para os eventos de El Niño nas safras 1982/1983, 1997/1998 e 2015/2016. A comparação entre as décadas (anos 1980s x 1900s x 2000s) mostra que os impactos negativos verificados nos anos de El Niño são menores com o passar dos anos (veja o artigo completo aqui). “Sem dúvida, esse desempenho da triticultura sul-brasileira pode ser creditado à evolução em genética de cultivares e em tecnologia de manejo de produção”, explica o analista Aldemir Pasinato.

“Para a safra de 2023, diante da perspectiva da volta de El Niño e a possibilidade de condição ambiental de maior umidade, especialmente na primavera, reitera-se aos triticultores do sul do Brasil, a importância de, nessa safra, mais do nunca, praticarem a gestão integrada de riscos, unindo boas práticas de manejo de cultivos e adesão aos instrumentos de securidade rural”, conclui o pesquisador João Leonardo Pires.

A Embrapa Trigo orienta para algumas práticas de manejo que podem minimizar os impactos do El Niño na produção de trigo na Região Sul:

– semear trigo em sistema de rotação de culturas, ou seja, dar preferência a áreas que tenham utilizado espécies não hospedeiras de doenças do trigo no inverno anterior (ex. aveia-preta, canola e nabo forrageiro);

– intensificar o uso do inverno, com planejamento das áreas que permita cobertura do solo o ano todo, por meio do uso de culturas como o nabo forrageiro, entre o cultivo de verão e o trigo, permitindo ciclagem de nutrientes, redução da erosão e maximização do rendimento de grãos;

– respeitar os períodos de semeadura, em cada região, conforme definidos pelo Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (ZARC). Esses podem ser consultados, em escala municipal, nas portarias ZARC do MAPA ou pelo aplicativo ZARC Plantio Certo;

– utilizar cultivares de ciclos diferentes semeadas em uma mesma época (dentro do calendário ZARC) para evitar que os períodos críticos da cultura ocorram no mesmo momento em todos os talhões/lavouras;

– no caso do uso de somente uma cultivar (ou cultivares com mesmo ciclo), fazer o escalonamento de épocas de semeadura para evitar que fases como florescimento ou espigamento ocorram no mesmo momento em todos os talhões/lavouras;

– evitar fazer a semeadura em solo excessivamente úmido, para reduzir o risco de ocorrência do mosaico-comum do trigo, dando preferência a cultivares com maior nível de resistência a essa virose e a áreas sem histórico da doença;

– escolher cultivares com boa resistência geral a doenças e à germinação dos grãos em pré-colheita;

– fazer o acompanhamento das previsões meteorológicas de curto prazo (maior nível de acerto) para tomada de decisões de manejo, como semeadura, aplicação de insumos e proteção de plantas nos momentos mais adequados;

– fazer a divisão da dose de nitrogênio em cobertura para maximizar o aproveitamento desse nutriente e reduzir perdas por lixiviação e/ou escorrimento superficial;

– realizar o monitoramento de doenças, com atenção especial para giberela, fazendo o acompanhamento da fenologia da planta e das condições ambientais, com a aplicação de fungicidas para proteção da espiga quando necessária (produtos e tecnologia de aplicação apropriados);

– fazer a colheita tão logo seja possível, evitando a perda de qualidade tecnológica em função de chuvas possivelmente mais frequentes na primavera; e

– fazer a contratação de seguro agrícola.

(Com EMBRAPA)

(Emanuely/Sou Agro)