AGRICULTURA
O papel da pesquisa no desenvolvimento do trigo no Brasil
Neste cinquentenário da Embrapa são 124 cultivares de trigo, 21 de cevada, 16 de triticale, 4 de aveia e 3 de centeio disponibilizadas para a agropecuária pela Embrapa Trigo. O programa de melhoramento genético de cereais de inverno conduzido por este centro de pesquisa tem sido determinante para o crescimento dos cultivos de inverno nos mais diversos ambientes do País e demonstra a contribuição do centro de pesquisa para que o Brasil alcançasse nos últimos anos rendimentos recordes.
No trigo, foram desenvolvidas cultivares para os mais diferentes usos, como fabricação de pães, massas, bolachas e biscoitos, além de trigos para alimentação animal em forma de grãos ou forragem conservada. Atualmente, de cada dez cultivares de trigo que estão no mercado, sete contam com germoplasma da Embrapa.
Com a contribuição da pesquisa, a média de produtividade em trigo cresceu 5 vezes nas lavouras brasileiras. Na safra 2022, os rendimentos variaram de 3 mil kg/ha (cultivo de sequeiro) a 10 mil kg/ha (irrigado), resultado do desenvolvimento de cultivares com ampla adaptação, estabilidade no rendimento e resistência a doenças, possibilitando assim a consolidação e expansão dos cultivos de cereais de inverno no País, bem como a redução no uso de defensivos e aumento na rentabilidade do produtor.
No início dos anos 2000, a produção de trigo atendia 30% da demanda nacional. Na safra 2022, a produção supriu 83% da demanda. Num cenário de contínuo crescimento de área e manutenção dos índices de produtividade nas lavouras, a autossuficiência em trigo poderá ser alcançada nos próximos anos.
Cinco décadas de história
A Embrapa Trigo foi criada em 28 de outubro de 1974, em Passo Fundo, RS. Nestas cinco décadas, as pesquisas voltadas à intensificação do uso da terra e à sustentabilidade da produção de cereais de inverno fizeram a história da agropecuária brasileira, avançando da Região Sul para novas fronteiras agrícolas no País.
Da pecuária aos grãos
A criação da Embrapa Trigo revolucionou a paisagem rural na Região Sul nos anos 1970, com a gradual substituição dos campos de pecuária extensiva, em solos ácidos e cobertos por capim barba de bode, pelas lavouras de grãos e cultivo de pastagens para suprir a pecuária. “A criação da Embrapa Trigo tinha a finalidade de reduzir a dependência externa do Brasil por trigo. As importações oneravam os cofres públicos e a escassez desse cereal ameaçava a segurança alimentar da população”, conta o pesquisador Gilberto Cunha. Segundo ele, nas primeiras tentativas de produzir trigo no sul do Brasil, seja pela importação de semente ou usando as trazidas pelos imigrantes europeus, especialmente quando eram trigos de inverno, as lavouras acabavam dizimadas, seja por doenças, pela toxidez do solo ou por falta de frio para cumprir o ciclo..
Com a missão de viabilizar soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio de trigo e de outros cereais de inverno no Brasil, a Embrapa Trigo dedicou-se inicialmente à criação de um programa de melhoramento genético, além da introdução de linhagens de trigo trazidas do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), com sede no México, onde também foram treinados os primeiros pesquisadores que chegavam à Embrapa. Vencida a adaptação genética, começaram a ser desenvolvidas as cultivares brasileiras de trigo visando ao crescente aumento da produtividade, evoluindo para a racionalização no uso de recursos, competitividade na qualidade tecnológica e geração de renda nos diversos elos da cadeia. Atualmente, as pesquisas estão alinhadas às novas tendências de consumo, promoção da saúde e preservação do meio ambiente.
Marcos da pesquisa
A Embrapa Trigo é uma referência na história do plantio direto no Brasil. Os primeiros cultivos com plantio direto na palha, adaptação de máquinas e capacitação de agricultores iniciaram no norte do Rio Grande do Sul, onde está localizada a Unidade. Nos últimos anos, novos problemas associados ao manejo do solo exigiram a revisão das práticas em uso, direcionando para o novo conceito de sistema plantio direto, que tem uma visão mais abrangente envolvendo, além do revolvimento mínimo do solo e da semeadura na palha, também rotação de culturas e cultivo permanente do solo, sistema colher-semear, em associação com outras práticas de conservação do solo e da água que têm sido amplamente difundidas junto à assistência técnica e a extensão rural.
O programa de controle biológico de pulgões no trigo até hoje é reconhecido como um caso de sucesso na comunidade científica mundial. Criado em 1978, através da parceria entre pesquisadores da Embrapa Trigo e da Universidade da Califórnia, o trabalho teve por base a introdução de inimigos naturais nos trigais brasileiros, especialmente uma espécie de vespa capaz de parasitar o pulgão, principal praga do trigo na década de 1970. Os parasitoides eram criados em larga escala no laboratório de entomologia da Embrapa Trigo e liberados nas lavouras. A redução no uso de inseticidas chegou a 855 mil litros por ano. Ainda hoje, os danos causados por pulgões não têm sido significativos, mostrando que o controle biológico de afídeos no trigo continua ativo no ambiente. Agora as pesquisas estão voltadas ao monitoramento dos afídeos e ao desenvolvimento de cultivares com resistência genética às viroses transmitidas pelos insetos.
Para atender ao crescente mercado de proteína animal, foram desenvolvidas as primeiras cultivares de trigos com duplo propósito, disponibilizadas de forma inédita pela Embrapa Trigo em 2002, com o objetivo de ampliar a oferta de forragem para um rebanho de 25 milhões de cabeças existentes na Região Sul. Com ciclo mais longo, o trigo de duplo proposito permite a alimentação dos animais em época de escassez de forragem, possibilitando o pastejo durante o outono e o inverno, com posterior colheita de grãos ou silagem. A tecnologia resultou no aumento na média de produção de leite de diversas propriedades de agricultura familiar, passando de 10kg de leite/vaca/dia para mais de 20 kg de leite/vaca/dia. A tecnologia deu início a novas linhas de pesquisa voltadas ao forrageamento animal com o lançamento de cultivares de trigo, triticale, centeio, aveia e cevada.
(Com EMBRAPA)