ESPECIAIS
Rio Iguaçu é repovoado com espécie de peixe ameaçada de extinção
A Copel concluiu mais uma etapa de reprodução em cativeiro do surubim-do-Iguaçu/monjolo – maior peixe nativo da Bacia do Iguaçu, espécie ameaçada de extinção. Com o desenvolvimento de uma técnica pioneira, a empresa já conseguiu levar ao mesmo rio mais de 140 mil alevinos de surubim.
Somente no ciclo que teve início em novembro de 2022 e foi encerrado em abril deste ano, foram soltos cerca de 14,5 mil exemplares de peixes ameaçados de extinção em reservatórios de usinas hidrelétricas instaladas no maior rio paranaense.
As pesquisas e a criação de peixes ameaçados de extinção acontecem na Estação Experimental de Estudos Ictiológicos, mantida pela Copel no município de Reserva do Iguaçu, região da Usina Hidrelétrica Governador Ney Braga (antiga Usina Segredo).
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A Estação foi construída logo após a entrada em operação da usina, em 1992. Desde o início, a empresa investiu nos estudos para reprodução do surubim-do-Iguaçu, que é encontrado somente nas regiões do médio e baixo Iguaçu, no Sul e Sudoeste do Paraná.
Os relatos científicos iniciais a respeito dos peixes nativos do Rio Iguaçu datam de 1983 e integram os estudos ambientais para a instalação da Usina Hidrelétrica Segredo. A ocorrência de uma nova espécie do gênero Steindachneridion, endêmica à bacia mesmo rio, foi registrada pela primeira vez em 1991, indicando que ela ocorria somente à jusante (rio abaixo) do Salto Segredo, fato confirmado por pesquisadores em 1994.
À época, eles já apontavam a necessidade de considerar a espécie como alvo de ações de conservação. Em 2005, a espécie recebeu a denominação Steindachneridion melanodermatum – popularmente conhecida como surubim-do-Iguaçu ou monjolo.
Ainda na década de 90, preocupada com as questões de conservação da biodiversidade, a Copel começou a trabalhar com essa espécie de surubim que, além de rara, era difícil de capturar. Para os estudos iniciais, foram realizadas expedições ao baixo Iguaçu em busca de exemplares que passariam a compor o plantel de reprodutores da Estação recém-construída.
Pioneirismo
Os especialistas da Copel iniciaram, então, pesquisas e testes até chegarem à metodologia mais adequada e eficaz para a reprodução em cativeiro. O primeiro passo foi manter os primeiros moradores em grandes tanques de aclimatação na Estação.
Eles tiveram hábitos e ciclos biológicos estudados pelo período necessário para descobrir fatores como o tempo médio de vida, o tipo de alimentação, o período e as características da reprodução.
Com conhecimento detalhado do ciclo biológico, a empresa iniciou as experimentações para induzir a reprodução e desova em cativeiro. Até então inédita, a reprodução artificial do surubim-do-Iguaçu por meio da indução hormonal em laboratório foi um sucesso e, em 1997, a Copel iniciou a soltura no rio.
O processo reprodutivo anual de peixes em extinção na Estação da Copel começa no mês de novembro e coincide com o período de defeso (novembro a fevereiro), em que a pesca é proibida. “O primeiro passo é a seleção das matrizes (machos e fêmeas adultos capazes de produzir espermatozoides e óvulos), que recebem a aplicação de hormônio por dois dias”, explica o técnico em piscicultura, Dieter Penner.
No segundo dia, a equipe faz um cuidadoso trabalho de coleta dos gametas produzidos pelas matrizes para realizar a fertilização in vitro. “Os ovos fecundados são colocados em incubadoras e, três dias depois, nascem as larvas que são levadas para o tanque externo. Em média, em 25 dias, os alevinos atingem o tamanho mínimo para iniciarmos a soltura”, completa o técnico da Copel.
Esse trabalho envolve também métodos para aumentar a variedade genética dos alevinos de surubim-do-Iguaçu. Todo o plantel de reprodutores recebe chips de identificação. Isso permite controlar o uso de indivíduos distintos para os cruzamentos, cuidado importante na piscicultura com fins de conservação ambiental.
Segundo Penner, a produção anual de alevinos varia, em especial por conta das condições climáticas e fatores ecológicos, como a questão do canibalismo oportunista. “Em algumas circunstâncias, os alevinos maiores de surubim chegam a comer os alevinos menores, o que pode afetar os resultados do trabalho”, conta.
Aliado
Além da produção do surubim em extinção, os técnicos da Estação criam outras espécies típicas da região, como o lambari da espécie Astyanax bifasciatus, um peixe pequeno e mais generalista, mas com distribuição geográfica aparentemente restrita à Bacia do Iguaçu, segundo pesquisadores.
Esse lambari é usado, inclusive, como instrumento de proteção para as larvas e alevinos de surubim-do-Iguaçu nos tanques de criação. Primeiro, porque servem como alternativa de alimento aos alevinos de surubim, evitando que larvas maiores comam as larvas menores da mesma espécie.
Além disso, o lambari previne a infestação de ninfas (forma jovem de libélulas) nos tanques. Poucos sabem, mas as ninfas são predadoras aquáticas vorazes, que podem comer alevinos de surubim e causar, assim, queda na produção.
Conservação
Por conta de todas as variáveis a serem observadas para o sucesso do trabalho na Estação Experimental de Estudos Ictiológicos da Copel, a rotina da equipe é bastante intensa com as atividades de reprodução e soltura dos peixes em extinção, especialmente nos meses mais quentes do ano.
Os técnicos da Estação Experimental de Estudos Ictiológicos da Copel, Dieter Penner, Cezar Dalbosco e Claiton Bastian atuam também no apoio a projetos de pesquisa de universidades, realizam fiscalizações de atividades de monitoramento de peixes e qualidade da água, atuam em situações que demandam resgate de peixes em áreas confinadas e ficam de prontidão para atendimento a situações emergenciais nas usinas da Companhia.
Com AEN