Foto: Alex Adam/SEPL

Fórum de Hidrogênio Renovável discute uso de nova matriz energética no Paraná

Tatiane Bertolino
Tatiane Bertolino
Foto: Alex Adam/SEPL

Com plateia lotada, o 1º Fórum Estadual de Hidrogênio Renovável do Paraná reuniu em Curitiba especialistas da indústria, academia e formuladores de políticas públicas em torno de desafios e estratégias relacionados à produção e uso dessa matriz energética.

Os painéis se seguiram ao anúncio pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior de uma série de medidas para criar uma política integrada em relação ao insumo, e trataram de temas que foram desde a produção do H2, passando pela competitividade, inovação e demandas de longo prazo.

Entre os temas pertinentes abordados pelos 20 especialistas reunidos em quatro painéis sobre hidrogênio, os destaques foram a necessidade de integração dos atores envolvidos em pesquisas na área, a demanda de um arcabouço jurídico que dê segurança e estimule a implantação da tecnologia e a definição de uma modelagem de produção que leve em conta a realidade regional paranaense.

Para o secretário de Estado do Planejamento, Guto Silva, o fórum sobre hidrogênio respondeu à altura a demanda por integração dos players na área, com um ambiente de debate livre e a presença de todos os elos dessa cadeia.

“A presença do setor produtivo, investidores e membros da academia, que trouxeram experiências e pesquisas com muita ciência, tecnologia e inovação, assim como o Governo do Estado, em suas diversas pastas que já pesquisam o hidrogênio verde, e de representantes de ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e de Minas e Energia e de colaboradores de empresas e produtores, mostra que estamos no caminho certo, que viemos para jogar firme e para ganhar esse jogo”, diz Silva.

Segundo a advogada Irini Tsouroutsoglou, que trabalha com Direito Empresarial, Agronegócio e Direito Internacional Público e tem se aprofundado na questão da sustentabilidade, a discussão sobre o tema da transição energética tem se tornado urgente por questões ambientais e, também, por ações decorrentes das exigências impostas por diversos países.

“Este tema está se tornando preocupante porque essas questões podem virar obstáculos caso sejam usadas como argumentos para o estabelecimento de barreiras comerciais, o que pode ocorrer em um futuro próximo, o que tem acelerado a busca por uma energia mais limpa”, disse ela, que foi moderadora no painel que discutiu rotas de produção com foco em fontes locais.

Nesse sentido, além do uso de energias renováveis disponíveis no Estado para a produção do H2, como da energia hidrelétrica gerada por grandes e pequenas usinas no Paraná, foi sublinhado o protagonismo de outras fontes como da proteína animal, biogás, biometano, etanol e de subprodutos do saneamento, trazido à mesa pelo CEO da Sanepar, Claudio Stabile, que aposta no esgoto para uma produção em escala do H2, vistos os grandes números relacionados à empresa.

“Temos 8 milhões de paranaenses atendidos pela companhia, que geram 476 bilhões de litros de esgoto anuais. Se todo esse material fosse usado na produção de H2, teríamos 52 milhões de mestros cúbicos de H2 anuais, quantidade que abasteceria, diariamente e por um ano, 2.740 veículos elétricos” , diz ele.

Stabile informou, durante o Fórum sobre Hidrogênio Verde, que no próximo dia 6 estará na Alemanha, um dos países que mais investem nessa tecnologia, onde será assinado junto à Câmara de Comércio e Indústria (AHK) e Ministério do Ambiente alemães uma parceria na área do desenvolvimento do H2 a partir do biogás proveniente do tratamento do esgoto. Haverá, também, uma visita a uma planta lá existente.

Marcos de Oliveira Costa, coordenador de componente no projeto H2Brasil pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), que participou de painel no Fórum, elogiou a cooperação entre os dois países e destacou o papel do Paraná neste processo de transição energética brasileira.

“Esta reunião é importante porque fomenta a participação de todos os segmentos da sociedade que poderão, de alguma forma, contribuir e colher os benefícios dessa união. E o Paraná tem muito a oferecer, pela pujança industrial e agrícola, e pela combinação dessas vocações locais com o interesse em descarbonizar a economia, o que pode resultar em benefícios imensos, gerando emprego e renda para o Estado e contribuindo para a redução do aquecimento global”, disse ele.

Agropecuária

Segundo Benno Henrique Doetzer, diretor técnico da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, que esteve no painel dedicado à competitividade do H2 e às estratégias para a substituição do hidrogênio de fonte fóssil, o Paraná tem desafios próprios para fomentar a produção de energia e também ganha ao tentar neutralizar o potencial poluidor de culturas que ganharam força nos últimos anos.

“Temos no Paraná, hoje, o mesmo número de suínos e de seres humanos, porém os animais geram uma carga orgânica equivalente ao de sete pessoas, um material que precisa ser tratado e disposto corretamente na natureza, e o H2 pode ajudar nesse sentido, reduzindo a pegada de carbono”, destaca.

Doetzer cita que a produção rural no Paraná é difusa, mas que já existem redes próprias conectando produtores e que elas devem ser a base da estrutura logística da produção da nova energia.

“Investir nos clusters regionais existentes, como na interligação de redes de biogás, vai ajudar a viabilizar mercados e redes locais de distribuição e a construção de um modelo de negócio prático e efetivo”, diz o diretor técnico.

Ele que cita que, nesse processo, é importante a consolidação de segurança jurídica sobre o tema, o estabelecimento de um modelo de governança que organize essas iniciativas e envolva setor público e privado e que seja promovida ampla difusão da capacitação, tecnologia e inovação na área.

Com AEN

(Tatiane Bertolino/Sou Agro)

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