CURIOSIDADES
Projeto reutiliza água de indústria para irrigar pasto
#sou agro| Não são poucos os alertas de especialistas para o fato de que a escassez hídrica no mundo pode ser a causadora de conflitos globais, caso as nações e empresas não adotem o mais rápido possível práticas sustentáveis de gestão da água.
Informações obtidas pelo projeto MapBiomas, com base em análises de imagens feitas por satélite em todo o território nacional, entre 1985 e 2020, mostram que o Brasil perdeu 15% de sua superfície de água doce nos últimos 30 anos.
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Outro dado alarmante divulgado pelo Instituto Trata Brasil no ano passado, mas referente a 2020, revela que o desperdiçou mais de 40% de toda a água potável captada naquele ano. Em 2019, esse percentual era de 39%, o que denota que a situação tem piorado.
Por isso, o Dia Mundial da Água, comemorado dia 22 de março, além de promover a conscientização da população, busca evidenciar iniciativas como da Marajoara, uma indústria de laticínios localizada na cidade de Hidrolândia, interior de Goiás, que por meio de iniciativas relativamente simples tem feito uma gestão sustentável de todo o ciclo dos recursos hídricos que usa em seus processos fabris.
Uma dessas iniciativas é o projeto Fertirrigação, que aproveita as águas residuais da fábrica de laticínios. Após serem tratados numa estação de tratamento efluentes (ETE) própria, os recursos hídricos utilizados vão para uma rede de irrigação montada numa área de pasto com 160 mil m², próxima à indústria. Ao invés de descartar essa água no córrego da cidade, ela é usada para irrigar o pasto, mantendo a produtividade do mesmo o ano inteiro.
“O nosso sistema de tratamento da água por flotação assegura uma eficiência superior a 90%, bem mais do que os 60% exigidos pela legislação ambiental. Até então, essa água já devidamente tratada era lançada no Córrego Grimpas. Porém, com esse projeto de fertirrigação conseguiremos dar uma destinação mais sustentável para essa água”, explica o gestor de compras da Marajoara , Vinícius Junqueira.
Modelo
Criado em 2021, o projeto de Fertirrigação pode ser modelo para indústrias de todo o Brasil. Com mais de um quilômetro de tubulações, a rede de fertirrigação é bem mais eficiente do que o convencional uso de valas de distribuição de água. “Trata-se de uma fertirrigação em malha, composta por cerca 600 aspersores, sendo que cada um irá lançar água a uma distância máxima de um raio de 11 metros. Isso faz com que o uso dessa água seja mais racionalizado, desta forma, evitando o desperdício”, detalha Vinícius Junqueira.
O sistema também é composto por três bombas instaladas em tanques especiais, que recebem a água tratada, e podem irrigar 25 mil litros de água já tratada por hora, o que resulta numa capacidade total da rede de irrigar 75 mil litros de água por hora. Em 12 horas o volume de água irrigada chega a quase um milhão de m³.
Para se fazer o manejo rotativo da irrigação, a área de pasto é dividida em piquetes, o que faz com que a produtividade da pastagem aumente até cinco vezes. “Através deste sistema, independentemente do período do ano, se de seca ou não, você terá pasto verde e abundante para gado. E outra vantagem desse sistema é a possibilidade de levar com facilidade suplementação para o pasto, que pode ser diluída na própria água, refletindo no ganho de peso do gado”, explica Antônio Júnior Vilela, gerente industrial da Marajoara Laticínios
Biomassa
O Projeto de Fertirrigação foi implantado com a aprovação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Ele completa projeto anteriormente implantado pela indústria: o da Biomassa. Com o tratamento, por meio da ETE, da água usada nos processos fabris da indústria de laticínios, um desafio da empresa era dar uma destinação mais sustentável e ambientalmente correta para o material orgânico que era separado da água após o tratamento.
“Tínhamos um gasto grande com o transporte dessa matéria orgânica que era gerada, para uma usina de tratamento de resíduos sólidos, além do mais, queríamos dar uma destinação mais útil para esse resíduo que é rico em nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, substâncias importantes para o crescimento de pasto. Então, com a aprovação da Semed, decidimos usar essa biomassa como fertilizante para alguns pequenos produtores que cadastramos para participar do projeto”, conta o presidente do Grupo Marajoara.
Assim, explica Vinícius Junqueira, a empresa consegue tratar de forma 100% sustentável todo o ciclo de uso dos recursos hídricos, desde a captação, passando pelo tratamento da ETE até o descarte da água. “Tratamos a água que usamos, depois de tratada ela é usada no sistema de fertirrigação que, além de irrigar o pasto, reabastece o lençol freático. Também damos uma destinação sustentável para a matéria orgânica que foi gerada após o tratamento os efluentes”, explica
Premiação
Graças a esses projetos da Fertirrigação e da Biomassa, a Marajoara conquistou a primeira colocação na categoria Elementos Naturais na 19ª edição do Troféu Seriema, em 2021. O prêmio de âmbito nacional é concedido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO). A premiação contou com inscrição de 139 projetos em sete áreas, sendo16 deles na categoria Elementos Naturais, que teve a água como foco principal, levando em consideração o atual cenário de crise hídrica que vive o País.
Segundo Vinícius, a premiação é um importante reconhecimento para a Marajoara, que tem em sua gênese a inovação e o cuidado com o meio ambiente. “Com investimento em inovação e empenho podemos garantir o retorno de água ao lençol freático e sua disponibilidade futura. Nosso exemplo poderá também estimular outras empresas a adotar a prática 100% sustentável nos próximos anos, pois é um caminho sem volta”, declarou
(Com assessoria)