Em 2010, Valdenir da Silva ajudava a descarregar soja de um armazém graneleiro na cidade de Santa Rita de Trivelato, no Mato Grosso, quando ocorreu um acidente. Após ajudar a retirar cinco colegas do meio dos grãos, Silva acabou se desequilibrando e sendo soterrado. Na época, a empresa não tinha equipe de segurança para atuar nesse tipo de ocorrência, o que resultou em momentos de agonia até o resgate.
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“Entrou um pessoal para tirar soja das áreas onde o grão estava mais quente, mas havia um bolsão de ar embaixo e a soja cedeu. Eu fui pela lateral para ajudar o pessoal a sair, mas acabei caindo”, relembra. “Eu afundei uns dois metros. O pessoal demorou 10 minutos para descobrir minha cabeça, mas até me tirarem de lá foram 40 minutos de agonia”, conta Silva, que, por sorte, não sofreu sequela.
Casos como o de Silva acabam ocorrendo em armazéns, silos, indústrias e outros espaços confinados quando não há os cuidados necessários. Apesar de não haver dados oficiais dos acidentes, os relatos divulgados pela imprensa dão a dimensão desse problema.
Em janeiro, dois trabalhadores de uma empresa agrícola morreram após ficarem soterrados dentro de um silo de milho em Itaberá, no interior de São Paulo. Na primeira semana de fevereiro, um trabalhador morreu, em Teixeira Soares, após inalar um gás tóxico próximo a um silo e outro homem faleceu após cair em um silo e ser soterrado pelos grãos de soja do armazém em Itanhangá, no Mato Grosso.
“Os dados nacionais são pobres. Dessa forma, nos baseamos em estatísticas internacionais e em notícias na mídia”, afirma o especialista em segurança do trabalho, Marcelo Silveira.
Segundo Silveira, esse tipo de situação é comum, pois a pessoa que vai socorrer um colega pode acabar vítima. “Para cada dois trabalhadores que morrem na atividade, morrem dois socorristas. Temos que treinar esses profissionais corretamente para que não se tornem novas vítimas”, afirma. “Além disso, estatísticas internacionais falam que apenas 15% dos acidentes ocorrem em empresas que têm profissionais qualificados e gestão voltada à segurança no trabalho”, completa.
Para prevenir esse tipo de acidente, uma atualização da Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados (NR-33), ocasionada pela Portaria MTP 1690, de junho de 2022, passou a exigir um curso especial para os profissionais que atuam em espaços confinados, como silos, moegas, elevadores de caneca, armazéns, túneis, poços e tanques. Devido à gravidade dos acidentes de trabalho nesses locais, o treinamento “Equipe de emergência e salvamento em espaços confinados” passou a ser obrigatório aos profissionais que atuam em espaços dessa natureza, para estarem preparados em caso de acidente.
Para se ter ideia do perigo, além da ameaça física da queda propriamente dita ou de ser soterrado por toneladas de grãos, estes ambientes trazem como principais riscos atmosféricos a possibilidade da presença de gases tóxicos (como o ácido sulfídrico, por exemplo, capaz de promover o óbito em segundos), da ausência ou baixa concentração de oxigênio (risco de asfixia) e da alta concentração de oxigênio e de gases inflamáveis (risco de explosão).
“Algumas substâncias são difíceis de se detectar, e muitas vezes mais pesadas que o ar, se concentrando na parte baixa da estrutura. Se uma pessoa acessar esse espaço sem uma proteção respiratória adequada, poderá sofrer um mal súbito assim que chegar no fundo. Para cada situação, há uma estratégia adequada para restabelecer as condições normais da atmosfera”, detalha Neder Corso, técnico do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR e responsável pelos cursos na área de segurança no trabalho.
Diante da nova legislação e da demanda dos produtores e trabalhadores rurais, o Sistema FAEP/SENAR-PR incluiu o treinamento “Equipe de emergência e salvamento em espaços confinados” no seu catálogo, que já contava com outras três capacitações de NR-33 – “Trabalhador e vigia”, “Supervisor de espaços confinados” e “Atualização em espaço confinado”.
“Desde 2013, o SENAR-PR oferta cursos na área de trabalho em altura e trabalho em espaços confinados. Nós já vínhamos abordando o conteúdo de resgate nos cursos de NR-33 e de Brigada de Incêndios. Como o SENAR-PR já vinha trabalhando esses treinamentos de maneira prática, fizemos de forma rápida as adequações a essa nova exigência”, explica Corso.
Ao contrário dos treinamentos de supervisor, trabalhador e vigia em espaços confinados, que exigem atualização anual, o novo curso de equipe de emergência e salvamento terá periodicidade bienal, ou seja, exigência de atualização a cada dois anos.