Manejo inovador ajuda controlar planta daninha da soja
Problema que afeta a produtividade dos plantios de soja, a planta daninha conhecida como caruru pode ser melhor controlada quando há a integração da lavoura de verão com a pecuária no inverno. Estudos desenvolvidos pela Embrapa, Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e a empresa Três Tentos demonstraram que um manejo com a implantação do azevém na estação fria pode reduzir em até 90% a infestação de caruru até 12 dias após a semeadura da soja. Isso porque a palhada resultante da dessecação da forrageira funciona como barreira física para o crescimento desta espécie daninha. Em 2018 foi relatada a resistência do caruru ao glifosato, principal herbicida empregado no campo.
Os experimentos foram realizados na Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), entre 2021 e 2022, e basearam-se na comparação de três sistemas: o primeiro com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo, com manutenção da pastagem em altura de 25 cm e posterior dessecação para formação de palhada; o segundo, com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo mais intenso, com manutenção da pastagem em altura de 10 cm e posterior dessecação para formação de palhada; e um terceiro com preparo convencional da área com aração e gradagem, sem implantação de pastagem de inverno. Todos os modelos foram sucedidos pelo plantio de soja no verão e avaliação da incidência da planta daninha caruru.
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O primeiro sistema, com azevém mantido a 25 cm, proporcionou massa seca de parte aérea (MSPA) equivalente a 4,4 toneladas por hectare (t/ha) na dessecação para semeadura da soja, enquanto a parcela mantida a 10 cm de altura obteve MSPA de 2,7 t/ha. Na área testemunha, sem palhada/resíduo de pastejo e sem uso de herbicida pré-emergente, foram observadas 69,5 plantas/m² de caruru aos 12 dias após implantação da lavoura. Esse número foi reduzido em 48% na cobertura com 2,7 t/ha de azevém, manejado em altura de 10 cm. O melhor desempenho, porém, foi observado na parcela com azevém manejado a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha, onde houve 90% de redução da infestação do caruru na soja. A mesma situação foi observada na pré-colheita da soja, quando foram contabilizadas 42 plantas de caruru/m² no preparo convencional, contra 12 plantas/m² no manejo com azevém a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha.
Estudo prévio avaliando a interferência negativa de caruru mostrou que uma planta dessa espécie pode causar redução da produtividade da soja na ordem de 4,5% por metro quadrado, no primeiro ano, e de 8,3%, no segundo ano. Ou seja, pode ocorrer, na média, redução de 6,4% na produtividade da soja quando há presença do caruru. Na pesquisa realizada na Embrapa, a produtividade da soja também apresentou diferentes resultados em cada sistema. Em um ciclo de estiagem no Rio Grande do Sul, o sistema com maior cobertura alcançou 2,4 mil kg/ha do grão; o sistema com menor cobertura chegou a 1,6 mil kg/ha; enquanto na condição de semeadura convencional foram colhidos 969 kg/ha.
Conforme a pesquisadora da Embrapa, Fabiane Lamego, é essencial manter estratégias de manejo integrado, reunindo técnicas como o uso da palhada para dificultar o estabelecimento das plantas daninhas e a aplicação de herbicidas pré-emergentes seguindo as recomendações corretas de uso, para evitar que o banco de sementes do solo seja abastecido com as plantas indesejadas. Ela também recomenda a prática da semeadura direta, sem revolvimento do solo, fator que estimula as sementes de espécies daninhas presentes e favorece o estabelecimento do caruru. “A integração de diferentes formas de controle é fundamental para reduzir a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao controle químico,” informa a pesquisadora.
“O manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, no sistema integrado com pastagem no inverno e lavoura no verão, favorece o controle na fase mais crítica (lavoura) e reduz a pressão de seleção de novos biótipos resistentes. Isso porque se tira o foco exclusivo do controle químico e passa-se a usufruir das estratégias conjuntas da integração”, ressalta o professor do IFSul, Carlos Schaedler.
Com Embrapa