AGRICULTURA
Mercado de commodities sob intensa montanha-russa
#souagro | O mercado das commodities vive sob intensa montanha-russa em relação à soja, milho e trigo, tanto no cenário doméstico como internacional. Para entender melhor o momento, a equipe de reportagem do Portal Sou Agro conversou com o engenheiro agrônomo e consultor, Modesto Daga.
A soja tem sentido o baque por conta da flutuação do Real frente à moeda americana. Já o trigo, segundo cereal mais consumido no mundo, é considerado o patinho feio do mercado de grãos, por conta da escassez e do agravante atribuído à guerra entre Rússia e Ucrânia, ambos responsáveis por ¼ da produção de trigo mundial. Por sua vez, o milho vive a iminência de uma super safra, conforme alguns analistas podem atingir 90 milhões de toneladas, algo incomum. Em contrapartida, essa oferta pressionará os preços para baixo.
A saca da soja nesta quinta-feira fechou com cotação de 175 na praça de Cascavel. Há cerca de dois meses, o grão chegou a valer R$ 200 a saca com 60 quilos. Eis que surge a pergunta que não quer calar: o por quê os preços têm apresentado queda nos últimos dias. Segundo Daga, a explicação é curta e simples: Real valorizado frente ao dólar. “Isso faz com que a diferença de preços de Chicago não atinja a meta estimada, que seria a de um valor um pouco mais alto”.
Os Estados Unidos já exportaram mais soja do que tinham prevista nessa safra 2021/22 que encerra em 30 de agosto. “Então hoje, no mundo, só o Brasil tem a oleaginosa em estoque e terá o papel de abastecer o mercado internacional”.
Para Daga, o produtor com soja na mão hoje, precisa fazer com que esse produto não chegue ao mercado muito rápido e nem provoque acúmulo, obrigando as empresas e países interessados na importação a desembolsar um prêmio maior pelo grão, incentivando a subida no valor da saca no mercado doméstico e internacional. “A crise está grande, mas as pessoas precisam se alimentar e a soja é elemento básico para toda a cadeia produtiva de carne e principalmente à pecuária de leite”.
TRIGO: SITUAÇÃO CRÍTICA
A cotação do trigo ph 78 está em R$ 102 a saca. Segundo cereal mais consumido no mundo, a situação é considerada crítica. “Muitos são os países produtores de trigo para exportação, entre os quais a Rússia, a maior exportadora do planeta, seguida pela comunidade europeia, que por sua vez está com o estoque zerado. Canadá e Austrália estão em uma situação razoavelmente bem. Na sequência aparece a Ucrânia, há 3 meses vivendo sob ataque dos russos. Por sinal, ambos os países são responsáveis por ¼ da produção mundial de trigo. “O mercado ainda não precificou essa deficiência de oferta do produto no cenário internacional”. Por outro lado, ainda há o plantio de trigo da primavera dos Estados Unidos, muito atrasado. A Argentina, ante a situação em que se encontra por conta da tributação de 33% de todo o trigo exportado, deixa o produtor descapitalizado. “A tecnologia que os argentinos costumam empregar no trigo não deverá se repetir. Em resumo, hoje é o trigo é o que menos tem produto disponível e o que tem mais consumidor atrás. É o que realmente vai puxar os preços das commodities no mercado internacional’.
SUPER SAFRA DE MILHO
E o milho, com cotação de R$ 80 a saca, vive um momento de expectativa de segunda safra recorde, com possibilidade de chegar a 90 milhões de toneladas, mesmo com a possibilidade de quebra de quatro milhões de toneladas por conta da estiagem no bolsão da produção do centro-oeste brasileiro. “A geada felizmente não causou perdas tão significativas na nossa região. Entretanto, é preciso entender que estamos entrando em uma safra gigante e isso fará com que os preços despenquem, gerando uma dificuldade de elevação nos próximos meses.
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O Brasil anunciou nesta semana a exportação de um volume considerável de milho para a China. No ano passado, ela importou dos países produtores algo em torno de 28 milhões de toneladas. Apesar de ser hoje o segundo maior produtor de milho do mundo também é o maior importador. Rússia e Ucrânia, juntas, respondem por 28% do milho no planeta e o fornecimento de boa parte deste montante está comprometido em função da guerra travada entre os países. “Acreditamos que em um curto período, haverá redução do preço do milho por conta da pressão de oferta e com o passar do tempo, deverá voltar a patamares tidos como normais ao fim do segundo semestre”, conclui Modesto Daga.
(Vandré Dubiela/Sou Agro)