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AGRICULTURA

Conheça o arroz que consome menos água no cultivo

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Débora Damasceno
Débora Damasceno

Em busca de uma cultivar de arroz de ciclo precoce, que utiliza menos água e porte mais baixo, ao permitir maior resistência ao acamamento, pesquisadores da Embrapa desenvolveram a cultivar de arroz irrigado BRS A705 com elevada produtividade e qualidade de grãos.

A utilização de cultivares de ciclos diferentes possibilita que o orizicultor realize a semeadura dentro da janela mais indicada, a qual é bem restrita nas áreas de cultivo de arroz. A prática também ajuda a escalonar a colheita de forma que os grãos sejam colhidos dentro da faixa indicada para maximizar a qualidade industrial, com baixos percentuais de grãos gessados e elevada quantidade de grãos inteiros.

 

Por outro lado, mesmo sendo desejável do ponto de vista técnico, a utilização de cultivares de ciclo precoce somente é implementada pelos orizicultores se as cultivares disponíveis apresentarem elevado potencial produtivo. “Poderá haver alguma  redução de produtividade, devido ao ciclo menor, mas que será compensada pela redução dos custos de irrigação, na comparação com cultivares de ciclo mais longo, as quais tendem a ser mais produtivas na comparação com as de ciclo mais curto”, esclarece o pesquisador do Núcleo Temático de Grãos da Embrapa Clima Temperado Élbio Treicha Cardoso.

“A cultivar BRS A705, em função do seu ciclo, permite maior plasticidade na época de colheita, colaborando para a diversificação das cultivares utilizadas”, comenta. Conforme o pesquisador, a época de semeadura ideal deve ser aquela em que a diferenciação da panícula ocorre nos primeiros dias de janeiro, porque nesse período os dias apresentam maior duração, o que colabora para a obtenção de altas produtividades. “A densidade de semeadura deve possibilitar o estabelecimento de um estande de 200 a 300 plantas por metro quadrado, sendo necessários cerca de 90 kg de sementes aptas por hectare”, informa.

 

Outro ponto que chama atenção na BRS A705 é a menor demanda de quantidade de água para a sua produção, em função do ciclo precoce. “Em média, há uma redução em torno de 8% na demanda de água, tendo como referência uma cultivar de 130 dias de ciclo, da emergência à maturação. Essa economia de água, com elevada produtividade, colabora para a redução de custos, pois, além de menos água utilizada haverá menor demanda de energia para a irrigação, o que ocasiona melhor exploração dos recursos hídricos e energéticos disponíveis”, destaca o cientista da Embrapa.

A cultivar BRS A705

A BRS A705 é classificada como precoce, com ciclo no Rio Grande do Sul em torno de 120 dias. As plantas são do tipo modernas, com folhas pilosas e folha bandeira ereta. Distinguiu-se das demais cultivares pela altura de plantas, sendo de cinco a dez centímetros mais baixas que as cultivares comerciais. Apresenta grãos longos e finos de casca clara pilosa, sem presença de aristas e com excelente qualidade industrial e culinária.

A variedade apresenta alto potencial de produtividade, em torno de dez toneladas por hectare, e ciclo precoce, o que proporciona economia no uso da água de irrigação. O porte baixo da cultivar, confere resistência ao acamamento de plantas, mesmo em condições elevadas de adubação. ”Ela é uma evolução da BRS Pampa e o setor produtivo demandava uma cultivar que apresentasse flexibilidade no manejo. Os orizicultores que adotaram a Pampa, muitas vezes manejaram de forma inadequada e ela apresentava alguns problemas de acamamento, por isso buscamos aliar a produtividade, qualidade de grãos e a resistência ao acamamento para atender ao sistema de produção convencional”, conta o pesquisador da Embrapa Ariano de Magalhães Júnior, responsável pelo melhoramento genético da cultivar.

 

Ele ressalta que a cultivar tem apresentado excelentes respostas quando cultivada no sistema de arroz pré-germinado. “A BRS A705 apresenta resposta positiva a diferentes níveis de adubação de base e de cobertura, sem que ocorra acamamento de plantas”, informa Magalhães.

Além disso, ela apresenta moderada resistência às principais enfermidades da cultura do arroz, reduzindo o número de aplicações de fungicidas nas lavouras. “Dependendo das condições climáticas e de manejo, a BRS A705 não necessita de aplicação de fungicidas, enquanto que as cultivares suscetíveis recebem de duas a três aplicações no Rio Grande do Sul. Nas regiões tropicais o número de aplicações é muito mais elevado”, considera.

O porte baixo

O porte baixo da cultivar BRS A705 lhe confere maior tolerância ao acamamento, colaborando assim para maior flexibilidade no manejo de adubação, em especial nitrogenada, mas também na densidade e época de semeadura, além da altura da água utilizada na irrigação.

Este aspecto é levantado pelo engenheiro agrônomo Edivani Eufrásio Coelho, do município de Turvo, Santa Catarina, responsável pela condução de multiplicação de sementes da cultivar BRS A705, em nove hectares, na Agrogiusti Sementes. “É preciso maior cuidado no manejo de água porque não é um material que tem o colmo grosso, assim é necessário ter cuidado de não deixar as plantas cultivadas em água muito funda, pois isso conferirá menor resistência da variedade ao acamamento”, observa.

 

Para o consultor técnico João Luís Carricio Viero, da Brazeiro Sementes, outra empresa licenciada na produção de sementes da BRS A705, o município de Uruguaiana (RS), apresenta características de solo e clima (radiação) satisfatórios para extrair um bom potencial da nova cultivar. “Em relação ao manejo não encontramos dificuldades, pois é uma cultivar que passa bastante segurança ao incrementarmos tecnologias nas lavouras, pois não corre o risco de acamar”, declara.

Uso da água

Edivani ressalta que uma das vantagens da cultivar é direcionada aos produtores que precisam bombear a água de algum reservatório, uma vez que ela traz economia hídrica. O consultor técnico João Viero destaca que as vantagens de custos de produção da BRS A705 também recaem na economia de água pelo seu ciclo curto, e consequentemente, na redução de custos de energia elétrica. “Depois dessa safra desafiadora na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, com menor disponibilidade de água para irrigação, a principal virtude da BRS A705 é possuir ciclo curto com alto potencial produtivo”, enfatiza Viero.

 

Conforme Edivani, a indicação da cultivar para o Estado de Santa Catarina é o seu uso no sistema pré-germinado, pois os orizicultores vêm trabalhando apenas com cultivares de ciclos longos. “É um material novo, uma opção de manejo, uma ferramenta a mais para o sistema pré-germinado, com ciclo curto. O material está muito bonito e a expectativa é que se tenha uma excelente produtividade. Estamos só aguardando a colheita”, declara.

Além do registro e recomendação de cultivo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, está sendo solicitado ao Ministério da Agricultura (Mapa) a extensão para semeadura nos estados de Goiás, Maranhão, Roraima e Tocantins, em função da excelente adaptação da BRS A705 também nas regiões tropicais.

 

(Fonte: Embrapa)

(Débora Damasceno/Sou Agro)