AGRICULTURA
Seca prejudica controle de pragas no sul do país
#souagro| A estiagem no sul do país já tem trazido reflexos negativos na agricultura, as altas temperaturas atreladas a falta de chuvas tem gerado muita preocupação nas lavouras com a qualidade da produção, mas além disso tudo, existe outro problema que os produtores estão enfrentando com a seca: a dificuldade no controle de pragas. A baixa umidade relativa do ar prejudica o trabalho de pulverização, isso porque muitas vezes o produto nem chega até o plantio, como explica o engenheiro agrônomo, Ronaldo Coutinho: “A umidade do ar, quando tá muito seco principalmente nessa época do ano não é muito comum. Como nós estamos em um período de estiagem, é como se a gente tivesse mais ou menos ali entre agosto e setembro, quando é comum ter umidade do ar muito baixa. Então quando a umidade do ar fica abaixo de 30, 25 ou 20%, a pulverização normal é uma gotícula muito pequena, ela acaba não chegando, ela sai do pulverizador e muitas vezes ela já evapora antes de chegar em contato com a planta.”
Vento também preocupa
Outro fator que gera muita preocupação é que em algumas regiões, além da umidade baixa também existe o fator vento o que dificulta ainda mais a pulverização enfraquecendo a atuação do controle das pragas: “Isso causa desidratação nas plantas, elas perdem mais água, a folha fica mais ressecada, ela acaba murchando para tentar se defender, então é ruim”. afirma Coutinho.
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Estiagem favorece as pragas
Essa dificuldade no combate as pragas é causada porque a estiagem favorece o surgimento delas, inclusive de pragas que são secundárias ou terciárias que normalmente não dão problema nenhum no ciclo normal, acabam tendo uma incidência muito maior nas lavouras: “Isso acontece por exemplo com a maçã que quanto está muito seco aparece o ácaro. No milho e na soja, algumas que normalmente não daria um problema acabam aparecendo em anos de seca”, explica Coutinho.
O agrometeorologista, Reginaldo Ferreira enfatiza que as altas temperaturas são totalmente propícias para a proliferação destas pragas: “Aumentando as temperaturas, aumenta enormemente a multiplicação das pragas, porque elas reproduzem mais rapidamente.”
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As dificuldades dos produtores
De acordo com Reginaldo o produtor rural enfrenta normalmente três dificuldades em relação a defesa fitossanitária (processos e tecnologias destinados à sanidade vegetal, ou seja, ao controle de pragas e doenças): “Plantas daninhas que estão muito relacionadas a umidade relativa do ar e temperaturas, então tendo essa situação as plantas daninhas se desenvolvem muito rápido. Tem também as doenças, fungos e bactérias que estão muito relacionados a umidade relativa do ar que gera mais facilidade dessas doenças se alastrarem na lavoura e por fim as pragas que estão muito relacionadas a temperatura, quanto mais elevadas mais rápido essas pragas vão se reproduzir.”
Possíveis Soluções
Para o agricultor que enfrenta essa dificuldade no sul do país existem recomendações que podem ser seguidas para tentar amenizar as perdas causadas pelas pragas: ” Ou aumentar o tamanho da gota que vai acabar gastando mais produto, ou então faz nos horários que a umidade está mais alta, de madrugada, início da manhã ou à noite. Evitar os horários ali entre 10h e 12h até às 18h e 20h que é normalmente quando a umidade do ar fica muito baixa. É tentar fazer a pulverização no horário em que a umidade do ar esteja pelo menos acima de 30, 40% ou mais e aí torcer para que não tenha vento para não prejudicar um bom tratamento, aí consegue ter uma eficiência melhor. Ou aumentar o tamanho da gota, diminuir também a altura do pulverizador para que ele fique mais próximo da planta. São medidas paliativas, é tentar diminuir o espaço entre a pulverização e a planta para que não evapore antes de entrar em contato, esse é o maior problema que tem quando tá muito seco. Isso acontece em anos em que tu tem estiagem em um ano normal, raramente tem uma situação dessa”, finaliza Coutinho.
O agrometeorologista Reginaldo reforça essa importância da aplicação dos defensivos em horários onde a umidade relativa do ar esteja mais alta para garantir a eficácia destes produtos: “A aplicação dos defensivos tem mais eficácia quando a umidade relativa do ar está mais elevada, porque aí as temperaturas estão mais baixas. Todo defensivo quando é aplicado tem o ingrediente ativo que precisa acertar as pragas e doenças. Então na situação das pragas a maioria dos defensivos são aplicados durante a noite, porque durante o dia é ruim pois você muitas vezes não encontra a praga e também a temperatura muito elevada e o defensivo acaba evaporando perdendo o produto e não acaba com a praga, por isso a aplicação é normalmente feita no começo da manhã ou durante a noite. Então quanto a temperatura é muito alta e a umidade relativa do ar é baixa o produtor acaba perdendo a efetividade do defensivo se não aplicar nos horários mais propícios para o combate das pragas.”
(Débora Damasceno/Sou Agro)