Prejuízo da geada na Argentina ainda não foi contabilizado, mas já reflete nos preços da soja

Tatiane Bertolino
Tatiane Bertolino

O prejuízo da geada fora de época na Argentina ainda não foi totalmente contabilizado. Apesar da tristeza do produtor rural com a  perda, por outro lado, todo esse problema fez com que o preço da soja subisse, e ele deve ficar ainda mais alto. A gente já conta aqui o porquê.

Pra começar, vamos lembrar que a Argentina sofreu, nesta safra, com seca intensa, assim como algumas regiões do Rio Grande do Sul. E agora veio essa geada, fora de época, que a gente mostrou aqui no Portal Sou Agro.

O castigo das lavouras não foi nada favorável aos produtores. Apesar da tristeza com essa perda, que deve ser gigante, de forma imediata o valor da soja subiu mais de 1,5% na Bolsa de Chicago, o que reflete positivamente no mercado do mundo todo. É a lei da oferta e da procura: se o tempo afeta a oferta do produto, quem compra vai pagar mais caro por ele, e no fim das contas isso é positivo para o mercado, inclusive o brasileiro. “Essa subida no valor do fim de semana já está perdendo força, só que os prejuízos não foram contabilizados. Quando isso acontecer, vai aumentar mais ainda o preço do grão”, explicou o economista Camilo Motter, à nossa equipe.

Ele ressalta que ainda há poucas informações sobre o reflexo efetivo de tudo isso no mercado. A Argentina é nossa vizinha e vem sofrendo, desde a safra passada, com as condições climáticas.

“É uma perda dramática que ainda não sabemos qual a extensão. Isso reflete no mundo todo, mas para formação de preços acaba sendo positivo. O valor do grão é formado por vários fatores e com o acréscimo em Chicago e à medida que for avaliando o prejuízo no país vizinho, esse valor vai agregar ainda mais”, ressaltou.

Sobre a geada na Argentina

Em algumas regiões da Argentina, geadas se formaram nesta madrugada de sábado (18). Bem fora da época, esse gelo precoce afetou vastas áreas produtivas nas províncias de Buenos Aires, Santa Fé, Córdoba, La Pampa e San Luis. A temperatura da superfície medida no canal infravermelho após o nascer do sol, segundo imagens de satélite analisadas pelo Observatório Permanente da Área de Agroecossistemas do Instituto Clima e Água (CIRN-INTA), mostram que uma grande área plantada com milho, soja, amendoim e girassol, entre outras lavouras, foram afetadas pelo inusitado fenômeno meteorológico. A maior parte do milho tardio e da soja presentes nas áreas afetadas pela geada precoce estão no meio do período crítico de floração, o que pode impactar as produtividades esperadas de ambas as culturas.

Nesta semana, técnicos e agrônomos terão a missão de visitar os lotes afetados pelas baixíssimas temperaturas para avaliar o impacto dos possíveis estragos gerados pela geada inesperada.

Condições do tempo no Brasil

Por aqui, o cenário também não é nada animador. A soja, no início do ciclo em setembro do ano passado, sofreu com frio e chuva excessiva fora de época. Depois, seca. E nos últimos dias, bem em época de colheita, chuva, chuva e mais chuva. É, parece que o produtor rural não tem mesmo um minuto de paz. Inclusive mostramos por aqui muitas lavouras em que os grãos, dessecados ou não, chegaram a brotar.

Todo esse problema com clima fez com que a colheita da soja atrasasse bastante. Era pra ter sido colhida início de janeiro. Estamos no fim de fevereiro e tudo isso tá lento demais.

A colheita da safra 2022/23 de soja chegou a 25% da área cultivada no Brasil, contra 17% uma semana antes e 33% no mesmo período do ano passado. Os trabalhos avançaram rapidamente em Mato Grosso, mas seguiram muito lentos no Paraná e em Mato Grosso do Sul, onde problemas de qualidade podem começar a surgir caso as chuvas continuem constantes.

Tudo isso afetou o milho safrinha, que é plantado logo depois. No Paraná, a região plantada chegou a cerca de 40% e muitos agricultores não vão conseguir fazer o plantio a tempo do zoneamento, a não ser que queiram correr o risco de perdas com geada. A janela de plantio se encerra dia 28 de fevereiro.

 

(Tatiane Bertolino/Sou Agro)

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