Parte dos produtores atingidos pela seca ainda aguarda por indenização

Ageiel Machado
Ageiel Machado

#souagro | Como se já não bastasse a dor de ver o fruto de muito esforço destruído nas lavouras por conta da severa estiagem registrada na Safra de Verão, muitos produtores da região oeste do Paraná têm reclamado da morosidade de algumas seguradoras em cumprir com o contrato envolvendo o repasse de indenização como resultado das apólices de seguro. O Portal Sou Agro tem recebido mensagens com esse contexto por parte de produtores pedindo esclarecimentos e uma orientação quanto a esse problema.

Um dos casos envolve a família Bortoletto, de Jesuítas. O casal João Bosco e Sueli estão aguardando desde fevereiro o pagamento da indenização e até agora, nada. “Somente na sexta-feira à tarde, a corretora de seguros entrou em contato pedindo a documentação para dar entrada no processo. É um descaso com o pequeno e médio produtores pois os grandes agricultores já receberam dessa seguradora”, aponta Sueli. O casal contratou o seguro para uma área de 15 alqueires afetada pela estiagem. “Recebemos a informação que as seguradoras têm até seis meses para efetuar o pagamento, mas pelo jeito, não é bem assim”. O Portal Sou Agro procurou orientação de uma seguradora, que nos informou que o prazo para pagamento da indenização é de 30 dias após a entrega da documentação. Se esse prazo não for cumprido, é preciso uma correção dos valores a serem cobertos.

 

 

Frustrada com a falta da indenização da Safra de Verão, o casal decidiu não acionar o seguro para o milho e infelizmente, teve sua lavoura atingida pelo granizo no dia 22 de abril. “Perdemos tudo com a chuva de pedras”.

A estiagem na safra de verão provocou um rendimento pífio na propriedade, entre 14 sacas e 30 sacas por alqueire. Em outros tempos, eles chegaram a colher 185 sacas de soja por alqueire, uma diferença considerável. “Nunca aconteceu da gente colher tão pouco como neste ano”, comenta Sueli, acrescentando que além deles, outros produtores de Jesuítas e região também estão com dificuldade de receber a indenização por perdas na safra de verão.

Para entender melhor sobre essa questão da indenização, conversamos com o engenheiro agrônomo Carlos Somacal, da Agri Seg. Ele confirma a existência de situações do gênero envolvendo algumas seguradoras. “Algumas não estão com a integralidade das propostas pagas. Depende muito da região, início de colheita. No caso de os produtores do oeste do Paraná, tendem a ser com o pagamento adiantado, pois muitos colheram antecipadamente, em comparação com o norte velho e interior de São Paulo’” exemplifica.

Para Somacal, dentro de uma realidade regional, até o momento, são 2/3 dos produtores com as operações pagas e 1/3 ainda aguardando a cobertura do seguro. “Às vezes, esse trâmite pode ser comprometido por impedimentos na documentação exigida ou questões operacionais. Depende das exigências de cada operadora de seguro”, comenta Somacal. Entretanto, ele tranquiliza o produtor para não ficar preocupado sobre a possibilidade de não pagamento. “Há seguradoras com uma maior dificuldade por conta do volume de sinistros registrados ultimamente”.

 

 

Esse cenário já é um reflexo das intempéries observadas no milho safrinha. As seguradoras foram extremamente demandadas e isso levou a muitas operadoras a não conseguir refazer as mesmas propostas e atingir a área de cobertura verificada em 2021. “E essa será a tendência a ser verificada para a próxima safra de verão. Será um ano desafiador, por conta do limite de capacidade de cobertura”.

Um exemplo recente é o que ocorreu em Maripá. Certamente, a maioria dos produtores atingidos pelo temporal seguido de chuva de granizo, vão acionar o seguro. E a situação lá é bem pior, pois já vinham de uma frustração de safra de verão.

 

VALOR DO SEGURO VAI SUBIR

Esse volume considerável de sinistralidade verificado na região oeste também refletirá em relação ao valor do seguro. O aumento deve oscilar entre 25% e 40%, dependendo de cada operadora de seguro. Para o milho safrinha, por exemplo, muitos produtores não conseguiram contratar o seguro em virtude da escassez de mercado. Produtores e corretores estavam reclamando sobre a dificuldade em contratar o seguro, justamente pelas dificuldades vividas no momento. “O mercado do seguro ainda é recente no Brasil, ao comparar com outros países, como os Estados Unidos”, salienta Somacal.

O desafio agora é negociar com as seguradoras para não reduzir as garantias ofertadas e atender todas as demandas do campo. Conforme apurado no Atlas das Seguradoras, uma seguradora de renome nacional e internacional, por exemplo, cobriu uma área de 150 mil hectares de milho safrinha safra 2019/20. Já na safra da mesma cultura em 2021, essa área caiu drasticamente para 11 mil hectares. “Existem muitas áreas no oeste ultrapassando 90% de sinistralidade na região, gerando valores elevadíssimos considerando o impacto e o sinistro para as seguradoras”.

 

 

(Vandré Dubiela/Sou Agro)

(Ageiel Machado/Sou Agro)

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