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Produtores investem em pesquisas para melhorar erva-mate

Sirlei Benetti
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A articulação de produtores rurais da região Sul do Paraná garantiu recursos para o desenvolvimento de pesquisas com potencial para auxiliar quem tira o próprio sustento da erva-mate. Por meio de emenda parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o Conselho Gestor da Erva-Mate do Vale do Iguaçu (Cogemate) conseguiu R$ 609 mil para ajudar a destravar a liberação de compostos biológicos para o manejo de pragas que atacam a cultura e também para a compra de equipamentos para um laboratório, que vai otimizar o papel da planta na economia paranaense.

De acordo com o presidente do Cogemate, Naldo Vaz, era preciso juntar todas as pontas entre as necessidades dos produtores e os estudos em andamento no Estado que estavam sem recursos. Historicamente, a erva-mate tem três principais pragas: broca (ataca o tronco), lagarta (danifica folhas) e ampola (prejudicial aos brotos). Considerados os mais grave, os ataques da broca causam a morte da planta. Para esta doença, já há um produto registrado para seu controle desde 2012. Mas para as outras duas – lagarta e ampola – ainda não existem insumos para evitar danos.

Em conversas com estudiosos dentro da Câmara Temática do Cogemate, que conta com diversas instituições do Estado, Vaz descobriu que havia pesquisas em andamento no Paraná relacionadas ao combate às duas pragas que causam dor de cabeça no campo. Na Universidade Estadual do Oeste (Unioeste), em Cascavel, um professor desenvolve um produto biológico inédito para combater a ampola. Já na Embrapa Florestas, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), havia a intenção de estudar o uso de um produto, também biológico, destinado a outras plantas, mas que pode servir para a erva-mate.

Além dessas duas pesquisas específicas para as pragas, alunos e professores do Instituto Federal do Paraná em União da Vitória, região que abriga os produtores do Cogemate, têm conduzido diversos estudos a respeito da erva-mate. Porém, as pesquisas esbarram na falta de um laboratório equipado para avaliações mais detalhadas, como, por exemplo, um mapeamento genético das especificidades da planta que se produz no Estado.

“O que nós fizemos foi, com ajuda dessas entidades e orientações da FAEP, ir atrás do deputado estadual Hussein Bakri, líder do governo na Assembleia Legislativa, no fim de 2020. Então, apresentei que precisávamos de dinheiro para tocar pesquisas que impactariam toda a cadeira produtiva do Estado, que movimenta mais de R$ 600 milhões por ano. Se tem uma coisa difícil é conseguir dinheiro para pesquisa, mas, no fim das contas, tivemos a grata surpresa da liberação desses recursos”, compartilha Vaz.

Pesquisas

Um apaixonado pela pesquisa em erva-mate, o professor da Unioeste Luis Alves trabalha com a planta há décadas. O estudo para a formulação de um produto inédito para o combate à ampola está a campo desde 2010. Mas, por falta de verbas, chegou a ser interrompido entre 2015 e 2018. “No final de 2019 e início de 2020, os primeiros ensaios em campo foram realizados em plantio comercial de erva-mate, em Cascavel. Os resultados foram animadores e, diante disso, partimos para a busca de apoio financeiro e parcerias para a continuidade da pesquisa”, conta Alves.

Dos R$ 609 mil obtidos via emenda, o projeto da Unioeste terá uma fatia de R$ 52,4 mil, destinados ao custeio de material de consumo, viagens e uma bolsa de mestrado. “Nos próximos 24 meses de duração do projeto, esperamos que seja possível validar o controle biológico da ampola-da-erva com o fungo Beauveria bassiana, com uma tática segura e efetiva para resolver esse grave problema, tanto em viveiros de produção de mudas como nos cultivos comerciais”, aponta o professor da Unioeste.

A Embrapa Florestas vai receber um aporte de R$ 78,6 mil para testar se um produto já existente, e usado em outras culturas, pode ser usado para controlar a lagarta na erva-mate. “Sabemos que esse produto é eficiente, mas há necessidade de testes, chegar a uma dosagem adequada e uma série de parâmetros que precisam ser observados para que seja feito o registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, explica Susete Chiarello Penteado, pesquisadora na área de entomologia da instituição e responsável pelos estudos contra a lagarta.

Sistema FAEP/ SENAR-PR auxiliou na formulação de projeto

Para descobrir o caminho das pedras e formular propostas que pudessem ser incluídas no orçamento do Estado como emenda parlamentar, os produtores de erva-mate do Paraná contaram com a assessoria do Sistema FAEP/SENAR-PR.

“A demanda veio do Sindicato Rural de Bituruna. Os produtores pediram apoio para ver como funciona para obter registro de produto biológico. E, pudemos ajudar para que o processo andasse e tivesse êxito”, lembra Elisângeles Souza, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/ SENAR-PR.

Elisângeles reforça que o controle biológico é um instrumento importante no manejo das plantações. “Na erva-mate, a cadeia tem um trabalho muito forte no controle biológico, sempre buscando alternativas ao controle químico. Isso é bom tanto para a segurança do trabalhador e preservação do meio ambiente quanto para cumprir as exigências dos compradores, sobretudo internacionais”, revela a técnica do DTE.

Laboratório pode gerar novos produtos

Em União da Vitória, o Instituto Federal do Paraná (IFPR) oferta o curso superior de Agronomia, com a erva- -mate ocupando um papel de destaque nos estudos feitos no local. Para esta instituição serão destinados R$ 478 mil para a aquisição de equipamentos para um novo laboratório.

“A estrutura possibilitará o desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão, incluindo o estudo da composição química. Este, por sua vez, pode viabilizar o desenvolvimento de novos produtos, bem como a investigação e a aplicação de seus compostos bioativos, sendo de grande importância para valorização desse produto e da atividade agrícola ervateira na região Sul do Paraná”, detalha Patrícia Bortolini, da direção geral do IFPR.

No futuro, segundo o presidente do Cogemate, Naldo Vaz, a aquisição desses equipamentos pode resultar em novas descobertas, não apenas na área alimentícia e de bebidas, mas na indústria cosmética e farmacêutica. “Nosso objetivo é se organizar cada vez mais e mostrar todo o potencial da erva-mate, que tem no Sul do Paraná um importante polo com um produto diferenciado e de qualidade. E para isso, precisamos de pesquisa”, prioriza.

Fonte e foto: Faep

(Sirlei Benetti/Sou Agro)

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